sexta-feira, 5 de abril de 2024

Bolsonaro em Maceió e simplismo sobre sua aceitação na capital alagoana

Maceió foi taxada como "capital  mais bolsonarista do Nordeste" (Fotos: reprodução)

O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a Maceió, acompanhado de sua esposa Michelle, no final da manhã desta sexta-feira (5). Ainda na sexta, o ex-presidente inelegível, réu por fraude no sistema do SUS e investigado por tentativa de golpe de Estado, recebe (ou recebeu, depende de quando você lerá esse texto) título de cidadão honorário de Alagoas, aprovado pela Assembleia Legislativa ainda em 1º de dezembro de 2021. No sábado, o casal participa de evento do PL alagoano.

Evidentemente, ambos foram recebidos por muita gente. Menos que em outros tempos, mas, ainda sim, muita gente. E logo, nos perfis nas redes sociais de alagoanos começam as postagens de lambedura de feridas. “Capital mais fascista do Nordeste”; “cidade de gente reacionária”; “Só tem direita em Maceió”, e coisa do tipo.

Me desculpem quem pensa assim, mas esse é o pensamento fácil para explicar algo mais complexo. Maceió até pode ser tudo isso que os reclames das redes exaltam, mas esse segmento dos maceioenses não é maioria. E, sim, Bolsonaro venceu em Maceió nos dois turnos da eleição presidencial de 2022. Em 2018, ficou atrás de Marina Silva, então do PV, no primeiro turno; e venceu Fernando Haddad (PT), no segundo.


Aliás, na capital alagoana os candidatos petistas a presidente da República sempre tiveram dificuldade. E aí, temos diversas explicações que passam pela falta de lideranças locais sob a legenda do PT; passa por falta de melhor compreensão da política local e de construção de novas lideranças. Assim, como pela explosão de igrejas neopentecostais na cidade, dessas pequenininhas mesmo, que quase ninguém sabe sequer o nome.

Mas, essencialmente, passa pelo baixo – em termos relativos – investimento dos governos petistas na capital alagoana.

Logo após o pleito de 2022, o economista Arnóbio Chagas Cavalcanti, publicou no X – antigo Twitter – um fio mostrando o comparativo de investimentos dos governos Lula e Dilma entre Maceió e o interior de Alagoas. Proporcionalmente falando, é como se Maceió tivesse ficado parada no tempo em relação ao interior, especialmente do Agreste em direção ao Sertão, que avançaram décadas em termos de desenvolvimento e qualidade de vida.

Após um breve histórico das votações para presidente em Maceió e as disputas locais nas décadas de 1990 e 2000, o economista já manda o primeiro dado concreto sobre os impactos dos governos petistas na capital alagoana.

Outro fator apontado é o crescimento da violência na capital alagoana entre 2003 e 2013, período das tais jornadas de junho e que ocorreu o início da saída do armário da extrema-direita brasileira. Assim como Arnóbio, entendo ter sido um “casamento perfeito” para o discurso bolsonarista.

Em 2014, Maceió foi a cidade mais violenta do Brasil, com 101 mortes para cada 100 mil habitantes.

Mesmo assim, a votação no PT em Maceió teve uma queda menor do que se aparenta, mas com uma mudança considerável entre bairros ricos e pobres.

 Esses fatores fazem com que os maceioenses tendam por votar em opositores ao PT.


Outra questão que parece não entrar na cabeça dos eleitores mais à esquerda, é que a direita das décadas de 1990 e 2000 acabou. E muito disso por culpa do próprio PSDB que, além de apoiar o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff e ter se tornado base de Michel Temer (MDB), deu início ao discurso fascistoide do bolsonarismo.

Foi, por exemplo, na eleição de 2010 que José Serra, então candidato do PSDB, deu vazão a ataques moralistas e de enaltecimento à ditadura civil-militar de 1964, quando espalhou uma foto falsa de Dilma com uma espingarda, a chamando pejorativamente de “guerrilheira”.

Sem contar que o PSDB ficou sem nome que materializasse as ideias defendidas pelo partido e arregimentasse os votos mais conservadores. Na História política da humanidade, as ideias sempre foram materializadas por pessoas, independente do espectro político-ideológico: Lênin, na Rússia, Peron, na Argentina, Thatcher, na Inglaterra; ou Fidel, em Cuba.

Na natureza e na política não existe espaço vazio, se não tem o PSDB para receber os votos mais conservadores, outros ocuparão esse espaço e foi isso que ocorreu. E devido ao start do discurso moralista que os tucanos iniciaram, veio o que se chama de bolsonarismo.

Agora, a direita eleitoralmente viável é essa, a extrema-direita. E ela vem com todo tipo de antipolítica possível, de não debate sobre os temas que realmente importam na vida objetiva das pessoas.

Sem falar que esse campo tem uma persona para materializar suas ideias. Neste momento, Jair Bolsonaro. Mas amanhã pode ser a Michelle, Tarcizio de Freitas ou mesmo o Silas Malafaia.

Também nesse momento histórico, esse campo está em vias de ver seu líder eleitoral ser preso. E isso mobiliza bastante também. Foi assim às vésperas de Lula ser preso injustamente pela turma da Lava Jato ou mesmo quando Dilma estava me vias de ser arrancada da Presidência da República.

Ou seja, este é o momento de a extrema-direita estar nas ruas, até por não ter outra forma de manter seus eleitores mobilizados.

Mas gente na rua – e seguidores em redes sociais – não é o mesmo que voto na urna.

A maioria dos eleitores não dá bola para as movimentações da militância e só passa a observar a política em período eleitoral. Nesse meio tempo, vale o preço da comida, do aluguel, o tanto de salário na conta, a qualidade do trabalho, se os filhos estudam, sem há médicos em hospitais e postos de saúde públicos; se há unidades de saúde públicas. Ou seja, o dia a dia é que conta.

Então, não dá para cravar que Maceió é a cidade mais reacionária do Nordeste. Isso é simplismo puro. Mas dá para dizer que é a cidade onde o campo à esquerda menos compreende sua realidade política. Logo, não sabe como atuar nela.

Um comentário:

  1. Tem muito direitista em Maceió mas nunca achei fosse uma cidade reacionaria. Maceió já teve prefeitos de esquerda

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Cadu Amaral