segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Escolhas políticas e as eleições à Prefeitura de Maceió

Convenções do MDB e PL em Maceió (Fotos: Gabriel Moreia e Ailton Cruz)

Política é feita, entre outras coisas, de escolhas. Numa eleição, então, nem se fala. Em Maceió, os dois principais campos tiveram suas chapas para o comando da prefeitura definidas sob escolhas não muito boas, a depender do ator político e da ótica que se observa.


Do lado do atual prefeito João Henrique Caldas (PL), que atende pela sopa de letrinhas JHC, as escolhas definidas entre lideranças e partidos que o cercam são recheadas de contradições.

JHC escolheu como candidato a vice-prefeito o senador Rodrigo Cunha (Podemos). Sob a perspectiva do prefeito, excelente decisão. A suplente de Rodrigo é a mãe do prefeito, Eudócia Caldas que, se se materializarem as pesquisas eleitorais, ganhará dois anos de mandato no Senado.


Convenção do PL (Foto: Ailton Cruz/Gazetaweb)

Essa escolha, contudo, não foi boa para Arthur Lira (PP), presidente da Câmara dos Deputados, que desejava a indicação de vice de JHC para, em 2026, ter o controle do campo nas eleições de daqui dois anos. Tendo o vice, JHC só seria candidato ao cargo que Arthur Lira decidisse, ou não seria candidato a nada.

Agora, JHC pode escolher qual cargo concorrerá em 2026, se ao Governo do Estado ou ao Senado.

Arthur Lira escolheu ter JHC vinculado a si, ficando em terceiro ou quarto plano na disputa eleitoral na capital alagoana e sem controle de quase nada na parcela maceioense do campo político ao qual é vitrine.

Já Rodrigo Cunha escolheu se apequenar. Isso mesmo, se apequenar. Ele abriu mão do Senado para ser vice-prefeito de Maceió por dois anos. Fato inédito na “Câmara Alta”, até onde se sabe. Desistiu previamente de tentar sua reeleição a Brasília, assumindo, mesmo que indiretamente, a pequenez de seu atual mandato, conquistado em 2018 sob a inda reacionária que assolou o país naquele pleito.

Rodrigo Cunha fez dobradinha com JHC há seis anos, mas tinha imagem ligeiramente maior que o “amigo”, inclusive – ou por causa disso – por ser “novidade política” de então.

Mas a escolha de JHC não é somente positiva sob sua perspectiva, uma vez que pode ter gerado um adversário fervoroso para 2026, caso o acordo firmado agora para que Arthur Lira desistisse de indicar o vice e não lançasse Davi Davino Filho (PP) candidato a prefeito não se concretize.

JHC é muito forte na capital, mas quando a coisa vai para o interior, o bicho não é tão grande assim.

MDB

Já do lado de Rafael Brito, deputado federal do MDB e candidato a prefeito tido como principal opositor a JHC, a composição também se deu sob escolhas com mais de uma face.

O MDB fez o que pôde para arregimentar o maior número de partidos nessa coligação. Ao ponto, inclusive, de criar desgastes que poderiam ter sido diminuídos fossem as coisas feitas de maneira diferente.

A candidata a vice de Rafael Brito é a vereadora Gabi Ronalsa, do PV. Extremamente conservadora, a vereadora havia anunciado não disputar o pleito deste ano para cuidar de sua saúde, lançando em seu lugar um primo para a disputa de sua cadeira na Câmara Municipal de Maceió.


Convenção do MDB (Foto: Gabriel Moreia / Ascom Rafael Brito)

A escolha por Gabi Ronalsa se deu “aos 44 do segundo tempo”, após longa novela entre MDB e PT. O PT manteve uma pré-candidatura por meses, sendo num primeiro momento – ainda em 2023 – o deputado estadual Ronaldo Medeiros e depois, já no início de 2024, o presidente estadual do partido Ricardo Barbosa.

O MDB se moveu por Brasília para que a candidatura do PT fosse retirada, gerando desgaste junto à direção local do partido de Lula. O MDB, em boa medida, optou por não dialogar com os dirigentes locais petistas e estes também, em boa medida, escolheram esse caminho.

Após ter sua pré-candidatura retirada pela direção nacional, o PT de Maceió decidiu não indicar nenhum nome para a vice de Rafael Brito. Mas a direção local da Federação Brasil da Esperança, composta pelo PT, PCdoB e PV, insistiram em um nome petista para o espaço. O caso foi para a direção nacional da Federação, que manteve a decisão local do PT.

Escolhas fizeram com que esse processo todo fosse mais turbulento do que deveria, inclusive com entrevistas e “fontes de bastidor” alimentando o noticiário local de lado a lado.

Faltando poucos dias para o fim do prazo, o MDB acabou por ter a vereadora Gabi Ronalsa como vice, mantendo a Federação que elegeu Lula em 2022 na chapa majoritária.

E a escolha feita pelo PT – como toda e qualquer escolha que fazemos, essencialmente as políticas – teve consequências: uma figura ainda mais conservadora na chapa apoiada pelo partido à Prefeitura de Maceió; e maior dificuldade em ajuda estrutural para sua chapa proporcional.

Talvez, o único fator positivo aí seja o maior foco na disputa para a Câmara Municipal. Mesmo assim, em meu ver, será necessário haver algum tipo de remobilização da militância petista e dos próprios candidatos a vereador, que ao longo da campanha deverão sentir dificuldades dessa disputa, seja as naturais, que já haveriam independente de qualquer coisa, seja as ocasionadas pelas decisões que o partido tomou.

Rafael Brito deverá ter um excelente tempo de propaganda eleitoral, mas pelos discursos na convenção emedebista, a chapa ficou muito “pão com pão”. E por mais que marqueteiros se vendam – e muitos acreditem nisso – como mágicos, pão com pão será sempre algo mais do mesmo e sem gosto de nada, exceto o de pão. Mudanças têm de ser feitas ali.

PESQUISAS

Campanha eleitoral, feita com base na ciência política, leva em consideração as pesquisas de opinião, sejam elas as quantitativas ou as qualitativas. As primeiras são as de intenção de voto e de avaliação de governo, basicamente. E são essas as publicadas pelo noticiário político.

A última foi do instituto IBRAPE em 31 de julho deste ano. Nela, no cenário estimulado, JHC aparece com 71% das intenções de voto. Rafael Brito, 13%.




Já quando vamos para a avaliação da gestão de JHC, o atual prefeito possui 71% de bom e ótimo; 18%, regular; e 11% de ruim e péssimo.




Nos grandes centros urbanos, estados e no país, o eleitor médio não tem proximidade com os gestores. Logo, avaliam seu desempenho de forma mais objetiva. Em cidades pequenas, por exemplo, os prefeitos mantêm suas casas com as portas abertas para as pessoas entrarem, estão sempre por aí sendo vistos e vão à missa na igreja da cidade. Ou seja, são “amigos” da população. Isso pessoaliza as avaliações de seu desempenho como gestor.

Outra coisa a ser considerada é que o eleitor médio – aquele que não acompanha a política, não sabe como se posicionam os partidos, nem as lideranças no dia a dia de suas atividades, e que só para a política em período eleitoral – tende a votar com base na sua avaliação de governo. Logo, se uma gestão é boa para ele, por que ele votaria para que ela mudasse? Vale o pragmatismo aí, ao contrário dos eleitores mais engajados politicamente.

Dito isso, retirar toda essa gordura de aprovação que JHC possui em tão pouco tempo é tarefa hercúlea.

E onde estão as escolhas aí?

Estão na escolha dos partidos de oposição em não exercerem esse papel como deveria;

Está na escolha do MDB, que comanda o Governo do Estado, em não ter dado o devido tratamento aos seus vereadores, os fazendo não precisar da máquina da Prefeitura de Maceió para fazer política. O MDB elegeu cinco vereadores – de 25 no total – em 2020;

E está nos partidos, enquanto organizações, em não pautar o debate público de forma correta, tendo sempre – no máximo – somente os temas nacionais na ponta da língua.

Escolhas, todas, elas têm consequências e é com elas que precisamos lidar, no bônus e no ônus. E na política, ainda entre aqueles com horizonte curto, a subida tenda a ser de voo de galinha, mas a descida tende a ser cruel.


P.S.: Há outras candidaturas, como a de Lobão (Solidariedade) e Lenilda Luna (UP), mas optei por usar como exemplo as duas tidas como mais fortes.


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Um comentário:

Maria José Ribeiro disse...

Excelente comentário. Ajudou a dar uma luz do cenário eleitoral de Maceió