terça-feira, 10 de setembro de 2024

O potencial político/eleitoral desperdiçado pela esquerda em Maceió

Ato contra a Braskem, em dezembro de 2023 (Foto: Inês Campelo/MZ Conteúdo)

Já está virando lugar comum repetir – o que mim para não passa de lorota – que Maceió é uma cidade conservadora, reacionária e bolsonarista. Esse tipo de afirmação é fruto da incapacidade de enxergar o mundo ao redor e completo desconhecimento de dados sobre o perfil político dos maceioneses.

Evidente que conforme a conjuntura política muda, o perfil político das localidades também sofre alterações. Mas, via de regra, temos no Brasil percentuais bem consolidados de como o eleitorado enxerga a si mesmo. Em linhas gerais, temos entre 25% e 30% de eleitores mais à esquerda e o mesmo tanto mais à direita. Portanto, é o meio que define eleições majoritárias.


Em Maceió, isso não é diferente. Segundo a pesquisa do instituto Quaest, divulgado em 30 de agosto, 27% dos maceioenses se afirmam de esquerda. Desses, 15% como “petistas/lulistas” e 12% como de “esquerda, mas não petista”. Em números, isso representa 170.859 eleitores, do total de 632.812 na capital alagoana.

Quantidade de eleitores em Maceió (TSE)


Maceió possui 27% de eleitores de esquerda, segundo a Quaest

Logo, em tese, somente com os eleitores posicionados à esquerda, é possível a este campo ter candidaturas competitivas à Prefeitura de Maceió e também à Câmara Municipal. Então, por que isso não ocorre?

As respostas são muitas, mas, essencialmente, porque a esquerda – tendo o PT como principal partido – não tem feito o dever de casa e buscado pautar o debate público de forma cotidiana e perene. Com campanhas eleitorais cada vez mais curtas, elas são ganhas nos anos ímpares. Ou seja, nos anos não eleitorais.

Explico.

De nada adianta lançar candidaturas sem a construção de um ambiente político que as receba, ao qual elas se encaixem e sejam, de fato, alternativas eleitorais.

Lançar por lançar só gera desgaste.

É preciso, em meu ver, encontrar formas de estar sempre pautando o debate público, seja através dos mandatos – e estes o fazem, em boa medida –; sindicatos e organizações diversas dos trabalhadores e redes sociais, para além das dancinhas e cortes sem contexto do instagram e tiktokes da vida.

E o partido político tem papel central nisso, devendo ser o indutor da luta política.

Outro problema sobre o potencial de 27% do eleitorado que é desperdiçado pelo PT, e a esquerda em geral, é a forma do fazer campanha. Tomemos essa como exemplo. Há pouca ideologização das candidaturas à Câmara Municipal de Maceió. Muito por receio – penso eu – em se desconectar da vida cotidiana na cidade.

Aí cabe o exercício retórico – no conceito real da palavra – para politizar e ideologizar o máximo cada tema local. A esquerda sempre foi muito boa em temas nacionais e internacionais, mas sempre pecou em falar sobre seu quintal.

Vejamos. 

Um parlamentar metido a meme ambulante colocou em pauta na Câmara de Maceió a não compra de alimentos da agricultura familiar para a rede pública municipal de ensino. O argumento: “invasão de terra”.

Ora, o discurso está pronto: “quero ir para a Câmara Municipal para enfrentar a extrema-direita que atua para que nossas crianças deixem de ter acesso a alimentos de qualidade, sem veneno, oriundos da agricultura familiar. Você sabia que 51% do território de Maceió é zona rural e que praticamente não há produção de alimentos ali?”.

Exemplos são vários e em todas as áreas, inclusive no tema guarda-chuva que a defesa da democracia. São 27% de eleitores à esquerda em Maceió, mais de 170 mil eleitores. No primeiro turno de 2022, Lula obteve 195.714 votos em Maceió. Evidente que são votos contra o bolsonarismo.

Ou começamos a nos diferenciar ideologicamente, buscando pautar o debate público de forma cotidiana, ou nos perderemos na geleia geral que são as eleições. Para o eleitorado médio – que não acompanha os pormenores da política e diante das condições objetivas das campanhas eleitorais – todas candidaturas proporcionais são mais do mesmo. Se nem um conjunto de lideranças médias com alguma viabilidade eleitoral para a disputa parlamentar, o PT e a esquerda possuem, que dirá para as disputas majoritárias.

Ficaremos sempre à mercê da sorte da queda de um raio.


BAIXE A ÍNTEGRA A PESQUISA QUAEST AQUI


Um comentário:

Coloque sua idéia, ponto de vista ou posicionamento. Afinal, toda discussão para contruir ideias é válida. Também pode discordar da opinião expressa no texto, mas sem ofender de qualquer forma que seja.

Caso algum comentário não se enquadre, será deletado. Também peço que assine.

Por isso, os comentários são moderados.

Forte abraço!

Cadu Amaral