segunda-feira, 7 de abril de 2025

A agonizante morte política de Bolsonaro, o descartável

Jair Bolsonaro grita como um porco antes do abate (Imagens: Reprodução)


Em mais uma tentativa em vão de se livrar da cadeia, Jair Bolsonaro convocou ato na avenida paulista para este domingo, 6 de abril. A manifestação na cidade de São Paulo ocorreu três semanas depois de um ato em Copacabana, no Rio de Janeiro. Ambas manifestações tiveram como mote a baboseira de anistia aos golpistas de 8 de janeiro. Ambas as manifestações foram uma fracasso em mobilização. Ambas as manifestações contaram com figuras da política que não dão a mínima nem para Bolsonaro nem para os golpistas. Eles estavam ali somente para tentar se vincular ao eleitorado mais conservador, em especial, ao mais fanatizado.

O que o Brasil está vendo é o desespero de quem foi usado e está sendo descartado como um chiclete mastigado. Ou como a gente diz aqui em Alagoas, um rolete chupado.


Bolsonaro se apega a atos de rua numa tentativa vã de fazer pressão popular para se livrar da condenação por tentativa de golpe de Estado. Nem que os atos tivessem juntado milhões de pessoas cada, ele teria êxito nisso. Não faz diferença a quantidade de pessoas em manifestações convocadas por Jair Bolsonaro. Tanto faz, tanto fez, se tiver 100 pessoas ou se tiver um milhão. Ele já era. Ninguém liga mais para Jair Bolsonaro, exceto os fanatizados das bolhas da extrema-direita nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem.

Bolsonaro sempre foi duas coisas em toda sua vida: um péssimo militar, como afirmou, inclusive, Ernesto Geisel, um dos generais da ditadura de 1964; e um péssimo parlamentar, sempre compondo ali a gama de deputados que só servem para fazer volume nas sessões em plenário na Câmara dos Deputados. Mas a partir das jornadas de junho de 2013, quando aquelas manifestações foram cooptadas para o golpismo e pessoas ligadas a militares das Forças Armadas começaram a plantar a semente de que era preciso uma intervenção militar na política, as altas cúpulas – ou parte dela – decidiu que precisa de um bode expiatório, um espantalho, para disputar a política nacional.

Evidente que precisaria ser alguém irrelevante, alguém que fosse descartável para que outros nomes  mais confiáveis a esses militares ocupassem a política de maneria completamente naturalizada. Esse nome estava ali o tempo todo, prontinho e sem nada a perder: Jair Bolsonaro.

Bolsonaro foi lançado candidato a presidente da República cerca de 15 dias após a reeleição de Dilma Rousseff em 2014 dentro da sede da Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN, no Rio de Janeiro. Desde então, sua presença em programas de televisão popularescos aumentou exponencialmente. Desde então, suas postagens nas redes sociais aumentaram de alcance de forma surreal. Bolsonaro virou o tal mito que a horda insiste em chamá-lo.

Mas o projeto nunca foi ter Bolsonaro como referência. Afinal, ele é um péssimo militar e de modos nada civilizados. Mas era o que tinha, naquele momento, mais potencial eleitoral. O plano era – era, não. É – a volta dos militares para a vida política e institucional do país pelas vias democráticas. Só assim, a presença de militares em cargos civis e parlamentos estaria naturalizada.

Nessa construção, militares começaram a falar sobre política, o que nem seu código ética permite.

Um general, o tal Villas Bôas, ameaçou ministro do STF para que não dessem habeas corpus a Lula em 2018.

Nas últimas eleições, nunca tivemos tantos militares eleitos no Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras municipais como temos agora.

Ninguém mais se incomoda com militares falando e fazendo política, atividade exclusivamente civil no Brasil.

Ao perceber que não seria reeleito, Bolsonaro se desesperou e tentou dar um golpe de Estado. As figuras que o ungiram ainda em 2014 deixaram o bicho correr solto. Mais ou menos numa postura do “vai, tô contigo”, dando corda para que ele se enforcasse sozinho.

Evidente alguns desses militares que já estão indiciados e se tornarão réus no STF por tentativa de golpe de Estado compraram de verdade a tese do golpe, mas alguns só deram corda mesmo. Alguns até que vão pagar com prisão, até porque suas famílias continuarão com todas as benesses de ser militar no Brasil.

Em minha avaliação, o que as figuras que ungiram Bolsonaro não contavam foi com o alto grau de idolatria que se deu em torno de sua imagem, em parte fruto dessa unidade com igrejas evangélicas. Até por isso, o descarte não poderia se dar de maneira abrupta, sendo preciso fazer com que Bolsonaro fosse desmontado com o tempo. E essas manifestações fracassadas em mobilização são um sinal disso.

Uma das marcas de Bolsonaro e na extrema-direita era a grande capacidade de mobilização de rua, mas desde as eleições de 2022, esses atos começaram a ter cada vez menos pessoas. Evidente que durante a campanha, sempre tinha muita gente nos atos, até por causa do período eleitoral, mas já eram menores que os realizados em 2021, por exemplo.

Desde então, a cada manifestação, menos pessoas.

A queda em participação é gritante, o que vai minando a aura de grande liderança popular que bota gente na rua que se construiu em torno do capitão descartável do Exército.

A gente também não pode deixar de considerar o momento atual, de refluxo de mobilização de rua, independente do espectro político e da pauta.

Estamos num momento em que as pessoas não querem ir para as ruas, ou precisam de bem mais convencimento para isso. E a pauta oficial para esses atos recentes convocados por Bolsonaro não tem poder de convencimento para que as pessoas saiam de suas casas. Mais da metade da população brasileira não quer anistiar golpista.

Além do quê, só acredita que a preocupação de Bolsonaro é com aqueles que destruíram as sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro, quem ainda acredita em Papai Noel ou em unicórnio. Ou seja, os fanatizados que são menores do que parecem – 12%, segundo a Quaest –, mas maiores do que deveria, sejamos sinceros.

Jair Bolsonaro está se borrando de medo do que vai acontecer com ele após ser condenado pelo STF. Se ficar no Brasil, vai para a cadeia. Se fugir, carimba de uma vez parte de sua essência que é a covardia. Em ambos os casos, se o plano inicial de quem o ungiu der certo, será esquecido eleitoralmente.

O plano de quem ungiu Bolsonaro em 2014 é fazer Tarcísio de Freitas presidente. Capitão do Exército, ele é da confiança dos militares e não age como um espantalho, tal qual o Jair fez e faz nos últimos anos. Mas esse plano não é para agora em 2026. É para 2030.

Tarcísio de Freitas só tem 49 anos de idade. É uma criança em termos de atividade política. Tem sua reeleição em São Paulo praticamente certa e poderá usar seu segundo mandato para se distanciar da imagem de Bolsonaro, que estará preso por tentativa de golpe de Estado. 

Tarcísio ainda é um ilustre desconhecido do eleitorado brasileiro. Num segundo mandato como governador de São Paulo, terá tempo suficiente para viajar pelo Brasil, dar entrevistas na mídia hegemônica, se afastar da imagem de Bolsonaro e vai para uma disputa em que a esquerda terá Lula como cabo eleitoral somente.

Além disso, se já temos um Congresso Nacional ruim, esperemos o próximo, a partir de 2027, para a gente ver que não é tão ruim que não possa piorar. 

E no segundo mandato de Lula – ou quarto, considerando os dois primeiros nos anos 2000 – as travas para impedir que as políticas públicas de Lula se materializem serão ainda maiores, assim como a construção narrativa de que a esquerda acaba ali, em 2030.

Se para 2026, a extrema-direita não tem nome, a esquerda não tem para 2030. E Tarcísio virá muito forte para 2030. Para 2026, minha aposta é que vai o Ronaldo Caiado mesmo. E vai para tomar pisa mesmo.

O foco da extrema-direita é o Congresso Nacional agora, em especial o Senado. Por isso, e tantos outros pontos, é que estamos vendo o descarte de militar ruim e um político abaixo da linha de mediocridade, que foi alçado a ponta de lança no debate público do país como um espantalho mesmo para ser descartado assim que não tivesse mais serventia.

A alçada de Bolsonaro naturalizou militares na política, fez boa parte da população acreditar haver militares golpistas e legalistas e limpando a barra das Forças Armadas nessa espiral de confusão política iniciada ainda em 2013.

Esses atos de Bolsonaro pedindo anistia são como os gritos dos porcos antes de serem abatidos. E a analogia cabe bem aí porque Bolsonaro não passa de um porco fascista.

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