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O Brasil, definitivamente, não é para amadores. Isso vale para a política, a vida cotidiana em sociedade e para a economia, que parece ter a natureza da água – parafraseando Bruce Lee –, na qual se adapta a qualquer circunstância para seguir seu fluxo: crescer.
Não que eu seja adepto da lógica de que economias deve atuar na base do crescimento infinito. Isso para mim é tão errante, diante dos limites das fontes de riqueza disponíveis, mas é algo que atende ao paradigma do capitalismo: gerar riqueza de forma constante para garantir mais acúmulo de capital (para alguns, evidentemente).
No Brasil, a classe dominante opera num híbrido entre capitalismo e escravagismo, num modelo de sociedade que na vida material segue as bases do capitalismo, mas culturalmente, segue escravagista, gerando ainda mais acúmulo de riquezas por meia dúzia de pessoas.
Um exemplo dessa cultura híbrida é o valor dado ao trabalho no Brasil. Já tem algum tempo um vídeo em que os atores Pedro Cardoso e Lázaro Ramos, num carro, conversam sobre nosso país, viralizou e que Pedro Cardoso explica em poucas palavras o modelo híbrido de capitalismo e escravagismo do Brasil. “A gente é capaz de pagar um milhão de reais por um apartamento e você chama um homem para pintar seu apartamento de um milhão de reais, ele te cobra 5 mil reais, você acha um absurdo”. Poucas formulações poderiam ser mais precisas que essa de Pedro Cardoso.
Pagamos pouco por serviços por herança escravagista, onde até seres humanos eram propriedade de alguém.
Mas o que isso tem a ver com a economia brasileira sob Lula?
Tem que sob Lula, a economia brasileira parece, como a água, buscar frestas para seguir seu curso. Somos um país com gigantescas desigualdades, como enormes disparidades de renda e de oportunidades, mas com características muito próprias. Nosso piso de pobreza é muito mais baixo que países do mesmo patamar econômico e populacional que o Brasil, mas nosso teto de riqueza se equivale a países ditos de “primeiro mundo”, que já elevaram o piso de acumulação de riqueza.
Em miúdos, os pobres no Brasil são do mesmo nível dos mais pobres do mundo e os ricos por aqui do mesmo nível dos mais ricos no planeta. Ainda.
Mas com Lula, essa distância sempre diminui. Os mais pobres ficam menos pobres, mesmo com os ricos continuando ricos. Vivemos numa sociedade capitalista, afinal de contas.
E sempre quando esse movimento das camadas sociais ocorre, os do andar de cima se mexem para empurrar os de baixo para o ponto em que estavam.
O que move os discursos de achatamento de salários e de defesa de juros altos, pilar da narrativa da classe dominante brasileira, é exatamente isso. Evitar a elevação no padrão de vida dos trabalhadores. “Pagar bons salários? Inflação”; “fazer as pessoas comprarem, consumirem? Inflação”…
E como a economia brasileira está extremamente financeirizada, especialmente diante do padrão de produção que temos, essa lógica ganha ainda mais força política, por enfraquecer a contradição na classe dominante: rentistas versus industriais. No Brasil, há conflito de interesses entre eles.
Juros altos, mesmo que não seja dito explicitamente, buscam criar recessão, mas a de “laboratório”, controlada, para frear pujança econômica e buscar evitar inflação de demanda, uma vez que o Brasil é menos industrializado do que deveria.
Mas por mais altos que estejam os juros, a economia brasileira não para de crescer, sob Lula e sob a pressão da classe dominante que consegue, sim, impor suas vontades goela abaixo nas regras macroeconômicas no país, contenção de investimentos, por exemplo.
Mesmo assim, as projeções do PIB do Brasil para 2025, divulgadas em maio deste ano, são de crescimento. O Banco Central usa o boletim Focus – elaborado por figuras do mercado financeiro –, que aponta crescimento de 2,09%.
O Ministério da Fazenda tem projeção de 2,5%; o Banco Mundial, mas essa é de abril, 2,2%; e o FMI, também de abril, 2,2%.
A média de crescimento da economia brasileira durante o governo Lula 3 foi de 3,15%, sendo 2,9% em 2023 e 3,4% em 2024. É sempre bom destacar que quanto mais se cresce, mais difícil é seguir crescendo. Salvo se houver muita demanda, muito espaço vazio na economia a ser preenchido.
Por espaço vazio entenda desemprego em alta ou locais com pouquíssima ou nenhuma infraestrutura, por exemplo.
E o período anterior, de Michel Temer e Jair Bolsonaro, acentuou isso.
Logo, o Brasil tem demanda reprimida e necessidade de reconstrução. Lula retomou obras, programas sociais e serviços públicos, com investimento púbico para gerar efeito multiplicador.
Programas como Novo PAC ou o papel do BNDES, Caixa e Banco do Brasil impulsionam setores estratégicos da economia brasileira, assim como a política externa de Lula.
Agora, imaginem se não tivéssemos um Congresso Nacional que abocanha grande parte do Orçamento da União.
As emendas parlamentares, além de hipertrofiar deputados e senadores de poder, reduzem drasticamente espaços de decisão estratégica do governo e deslocam recursos – via de regra – para redutos eleitorais e não para onde realmente precisa e que se some a um projeto de desenvolvimento verdadeiramente nacional.
Ainda temos o percentual do Orçamento voltado ao pagamento de juros da dívida. No Orçamento deste ano, 44% estão destinados ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Ou seja, R$ 2,53 trilhões, dos R$ 5,7 trilhões aprovados para 2025.
Outro fator é o Banco Central, “desde sempre” um instrumento do mercado financeiro e se afastando da representação popular a passos largos. Já temos autonomia do órgão e tramita no Congresso Nacional uma proposta para torná-lo autônomo financeiramente. Ou seja, num banco privado, de direito – de fato, já o é – com pode se determinar a economia brasileira.
Logo, na conjuntura atual, tanto faz tanto fez, o nome que assuem a presidência do Banco Central. Sem mudança na correlação de forças no país, que gere representação política no parlamento, quem quer que seja que sente naquela cadeira rezará na cartilha dos rentistas.
Dito isso, um parêntese: Ainda é cedo para avaliar a passagem de Gabriel Galípolo pelo comando do Banco Central, mas só está surpreso com as primeiras decisões do órgão sobre seu comando quem está distraído ou não compreende bulhufas de como esse jogo é jogado. Logo da confirmação de seu nome para o Banco Central, cantei como seria a presidência dele no órgão, no Youtube (CLIQUE AQUI).
Diante de todos esses fatores, a economia brasileira, sob Lula na Presidência da República, insiste em crescer. Basta ter um governo que se preocupe com o desenvolvimento econômico, com distribuição de renda, com geração de empregos, que o Brasil cresce. Mesmo com sua superestrutura funcionando para impedir isso.
São tantas demandas reprimidas, tantas lacunas históricas, que é quase impossível a economia brasileira não crescer, salvo pela mais pura sabotagem o chamado poder político. Mesmo com esse Congresso ruim, mesmo com o Estado brasileiro degringolado no pós-golpe de 2016, mesmo com o rentismo ditando ainda mais as regras do jogo, Lula consegue fazer a economia brasileira crescer incluindo socialmente.
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