domingo, 2 de setembro de 2012

Cidade de cana

Em período de eleições municipais deve-se debater mais a fundo os problemas das cidades. Afinal, é nas cidades que as pessoas moram. Todos os problemas, quaisquer que sejam eles, acontecem nas cidades. Poluição, trânsito, barulho, vias, praças, escolas, postos de saúde, espaços para lazer e convívio, praias para as cidades litorâneas... Enfim, uma infinidade de problemas.

Todos quase sempre tem como paradigma o ordenamento urbano. A forma como a cidade de se organiza, está distribuída. Se os espaços estiverem bem aproveitados, as coisas fluem melhor. Como em uma casa, a decoração e a localização de móveis segue de acordo com o tamanho do imóvel, por exemplo.

Agora se na sua cidade mais da metade da área fosse constituída por cana-de-açúcar, ou qualquer outro tipo de monocultura, como você acha que seriam os problemas da sua cidade?

Se a sua cidade fosse uma cidade com aproximadamente 1 milhão de habitantes, repletas de grotas e tivesse menos da metade da cidade pra organizar todo mundo, como você acha que sua cidade seria?

E nessa cidade, cerca de 0,01% da população vivesse na área rural e a produção de cana-de-açúcar em mais da metade de sua cidade não chega a um por cento da produção total do seu Estado. Como você acha que seria a sua cidade?


Você há de concordar comigo que qualquer população que viva em menos da metade do território de sua cidade não deve viver muito bem. Deve passar por problemas de toda a ordem. E se tiver um milhão de habitantes, essa cidade só pode crescer pra cima. Mas crescer pra cima significa cortar a ventilação do centro e dos bairros mais distantes do litoral.

A brisa do mar só pra quem vive na beira-mar.

O metro quadrado dessa cidade seria um dos mais caros do país e ninguém conseguiria explicar o porquê disso. Claro, partindo do pressuposto que as pessoas não sabem que vivem em metade da cidade. Não saberiam que o que ocasiona o alto preço do terreno é a escassez de terrenos urbanos.

Todo mundo com a sensação de estar espremido.

Se está todo mundo espremido, fatalmente problemas como transportes superlotados e moradia são gritantes. E numa cidade com 52 grotas. Muita gente vivendo, literalmente, em buracos.



Pois é, essa cidade é Maceió. Capital de um Estado que tem o monopólio da cana-de-açúcar como setor “produtivo”. Na mesma lógica do século XVIII quando as famílias dos senhores de engenho rompem com o governo de Pernambuco em favor do império brasileiro e como presente ganham a comarca de Alagoas para si.

Desde então vivemos sob o julgo dessas famílias. Elas estão aí nas estruturas de poder. Nos poderes do Estado (executivo, legislativo e judiciário), estão no inconsciente coletivo de boa parte das pessoas daqui. Muita gente que não tem essa origem tem como referencia de “sucesso” o padrão “adocicado” de vida dos usineiros.

Querem ser como eles. Frequentar os mesmos lugares que eles. Ter as mesmas “regalias” no aparato do Estado que eles. Projetam neles algo que na verdade nunca serão: elite.

Com a modernização do capitalismo, elite pode ser, em tese, qualquer um. Desde que você consiga juntar “dim dim” suficiente para comprar seu status. Você pode “sair de baixo” e ascender socialmente. Talvez isso exista em países onde o capitalismo seja moderno. Mas aqui no Brasil e em especial Alagoas, não.

Aqui em Alagoas vale o berço. Se não tem berço, pode ter o poderio econômico que for, sempre será um “pé rapado”. Por mais que frequente as altas rodas.

Não é à toa que a classe média alagoana reproduz com tanto afinco os preconceitos das elites. Reproduz sem se dar conta que é um preconceito contra si mesma.

Sem falar que muita “gente fina” vive de mamar nas tetas do Estado. Por isso o ódio a programas de transferência de renda, por exemplo. É mais Estado para o povo e menos pra eles.

Também não é a toa que o maior partido de Alagoas é Cooperativa dos Usineiros. Lembra das famílias que romperam com Pernambuco em favor do império brasileiro e que ganharam Alagoas por isso? Pois é, essas famílias deram origem a Cooperativa.

A Cooperativa usa o PSDB, e por vezes o DEM, como braço político. O governador, do PSDB, é usineiro. O Presidente da Assembleia, do PSDB, é usineiro. Nos anos 80, Guilherme Palmeira era o materializador da política canavieira em Alagoas, era do PFL, hoje DEM. O vice-governador, sempre foi o parlamentar da Cooperativa no Congresso. E por aí vai.

Agora lançam o novo-velho para prefeitura de Maceió. É RuiM de engolir essa.

Romper com o poderio do açúcar em Alagoas é um gesto de liberdade. Façamos valer o nosso hino.




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