Em
período de eleições municipais deve-se debater mais a fundo os
problemas das cidades. Afinal, é nas cidades que as pessoas moram.
Todos os problemas, quaisquer que sejam eles, acontecem nas cidades.
Poluição, trânsito, barulho, vias, praças, escolas, postos de
saúde, espaços para lazer e convívio, praias para as cidades
litorâneas... Enfim, uma infinidade de problemas.
Todos
quase sempre tem como paradigma o ordenamento urbano. A forma como a
cidade de se organiza, está distribuída. Se os espaços estiverem
bem aproveitados, as coisas fluem melhor. Como em uma casa, a
decoração e a localização de móveis segue de acordo com o
tamanho do imóvel, por exemplo.
Agora se
na sua cidade mais da metade da área fosse constituída por
cana-de-açúcar, ou qualquer outro tipo de monocultura, como você
acha que seriam os problemas da sua cidade?
Se a sua
cidade fosse uma cidade com aproximadamente 1 milhão de habitantes,
repletas de grotas e tivesse menos da metade da cidade pra organizar
todo mundo, como você acha que sua cidade seria?
E nessa
cidade, cerca de 0,01% da população vivesse na área rural e a
produção de cana-de-açúcar em mais da metade de sua cidade não
chega a um por cento da produção total do seu Estado. Como você
acha que seria a sua cidade?
Você há
de concordar comigo que qualquer população que viva em menos da
metade do território de sua cidade não deve viver muito bem. Deve
passar por problemas de toda a ordem. E se tiver um milhão de
habitantes, essa cidade só pode crescer pra cima. Mas crescer pra
cima significa cortar a ventilação do centro e dos bairros mais
distantes do litoral.
A brisa
do mar só pra quem vive na beira-mar.
O metro
quadrado dessa cidade seria um dos mais caros do país e ninguém
conseguiria explicar o porquê disso. Claro, partindo do pressuposto
que as pessoas não sabem que vivem em metade da cidade. Não
saberiam que o que ocasiona o alto preço do terreno é a escassez de
terrenos urbanos.
Todo
mundo com a sensação de estar espremido.
Se está
todo mundo espremido, fatalmente problemas como transportes
superlotados e moradia são gritantes. E numa cidade com 52 grotas.
Muita gente vivendo, literalmente, em buracos.
Pois é,
essa cidade é Maceió. Capital de um Estado que tem o monopólio da
cana-de-açúcar como setor “produtivo”. Na mesma lógica do
século XVIII quando as famílias dos senhores de engenho rompem com
o governo de Pernambuco em favor do império brasileiro e como
presente ganham a comarca de Alagoas para si.
Desde
então vivemos sob o julgo dessas famílias. Elas estão aí nas
estruturas de poder. Nos poderes do Estado (executivo, legislativo e
judiciário), estão no inconsciente coletivo de boa parte das
pessoas daqui. Muita gente que não tem essa origem tem como
referencia de “sucesso” o padrão “adocicado” de vida dos
usineiros.
Querem
ser como eles. Frequentar os mesmos lugares que eles. Ter as mesmas
“regalias” no aparato do Estado que eles. Projetam neles algo que
na verdade nunca serão: elite.
Com a
modernização do capitalismo, elite pode ser, em tese, qualquer um.
Desde que você consiga juntar “dim dim” suficiente para comprar
seu status. Você pode “sair de baixo” e ascender socialmente.
Talvez isso exista em países onde o capitalismo seja moderno. Mas
aqui no Brasil e em especial Alagoas, não.
Aqui em
Alagoas vale o berço. Se não tem berço, pode ter o poderio
econômico que for, sempre será um “pé rapado”. Por mais que
frequente as altas rodas.
Não é à
toa que a classe média alagoana reproduz com tanto afinco os
preconceitos das elites. Reproduz sem se dar conta que é um
preconceito contra si mesma.
Sem falar
que muita “gente fina” vive de mamar nas tetas do Estado. Por
isso o ódio a programas de transferência de renda, por exemplo. É
mais Estado para o povo e menos pra eles.
Também
não é a toa que o maior partido de Alagoas é Cooperativa dos
Usineiros. Lembra das famílias que romperam com Pernambuco em favor
do império brasileiro e que ganharam Alagoas por isso? Pois é,
essas famílias deram origem a Cooperativa.
A
Cooperativa usa o PSDB, e por vezes o DEM, como braço político. O
governador, do PSDB, é usineiro. O Presidente da Assembleia, do
PSDB, é usineiro. Nos anos 80, Guilherme Palmeira era o
materializador da política canavieira em Alagoas, era do PFL, hoje
DEM. O vice-governador, sempre foi o parlamentar da Cooperativa no
Congresso. E por aí vai.
Agora
lançam o novo-velho para prefeitura de Maceió. É RuiM de engolir
essa.
Romper
com o poderio do açúcar em Alagoas é um gesto de liberdade.
Façamos valer o nosso hino.
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