sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Luta política na mídia será central no governo Lula, mas é preciso ir além da internet e olhar para as rádios

Lula terá de ter olhar político especial para a mídia 

Durante o anúncio da segunda leva de ministros, Lula (PT) enfatizou a importância de derrotar o bolsonarismo nas ruas. Certeiro, uma vez que Bolsonaro não é criador do que se chama bolsonarismo, mas fruto disso. Bolsonarismo tem esse nome porque ninguém deu outro e o ápice disso se deu com a eleição de 2018.

Mas como fazer isso? Com política, seja no âmbito da articulação com setores sociais e partidos, seja na luta no ambiente midiático. E não, não se trata somente da internet, mas também de se ter um olhar mais atento às emissoras de rádio.

São milhares de emissoras de rádio espalhadas pelo país, seja nos grandes centros urbanos, seja nos rincões. O rádio ainda é uma grande fonte de informação para boa parte das pessoas e tem sido dominada pelo conservadorismo.

Trabalhadores quando vão ao trabalho, seja por que meio for, ouvem rádio. E se não for pelo aparelho do veículo, o fazem pelo celular. Para isso, não é preciso sinal de internet, basta conectar o fone de ouvido ao telefone e, pronto, o sinal de rádio começa a pegar. Os fones de ouvido dos aparelhos de celular também funcionam como antena de rádio.

A Jovem Pan, por exemplo, ganhou notoriedade pelo seu conteúdo golpista e fascistoide nos últimos anos, além do alcance que a emissora tem no Youtube. A empresa até ganhou uma concessão na TV aberta durante o governo Bolsonaro e muito milhões de reais em publicidade governamental. A Jovem Pan se tornou a emissora do bolsonarismo.

Mas esse olhar à emissora em seus canais no Youtube e tevê desviou a atenção à origem da empresa: o rádio.

A Jovem Pan está presente em milhares de cidades no país através do rádio sendo, inclusive, a emissora mais ouvida – ou estando entre as mais – em muitas delas. Quer um exemplo? Maceió.

Há anos que a Jovem Pan tem emissora de rádio na capital alagoana e quase sempre que vejo alguém num carro com o rádio ligado, está na sintonizado nesta emissora.

Em Maceió, ao menos desde 2020, a única emissora que percebo competir em audiência com a Jovem Pan é a Farol FM, do prefeito da cidade, JHC (PL). Seu conteúdo é propaganda política travestida de noticiário em favor do dono e seus aliados e neopentecostal.

E aí vem mais um ponto sobre a importância de se ter um olhar especial às rádios durante o terceiro governo Lula. As igrejas neopentecostais infestam as transmissões de rádio pelo país, especialmente as fora dos grandes centros.

Por ter muito dinheiro e as emissoras pequenas – comunitárias, na verdade – não, estas igrejas bancam o funcionamento das rádios e em troca, recebem uma gorda fatia da grade de programação.

O dado mais recente que encontrei aponta haver no Brasil cerca de 5 mil rádios comunitárias. Oficialmente, rádios comunitárias só podem transmitir sinal num raio de até 1km e não podem divulgar conteúdos publicitários e comerciais.

Mas em 2020, só entre março e abril, Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional 440 autorizações de funcionamento de rádios comunitárias. Durante todo o ano de 2013, do governo Dilma Rousseff (PT), por exemplo, foram 302. Esses dados são de uma reportagem do Estado de S.Paulo em 26 de julho de 2020.

Mas isso não é o acontece. O limite de alcance, ao menos nas cidades do interior – e me baseio muito na realidade de Alagoas – é ultrapassado à vontade no dia-a-dia. Anúncios também são vinculados e, no caso de conteúdo das neopentecostais, se tem o debate jurídico se aquilo é conteúdo comercial ou religioso.

Os próximos ministro e secretário de Comunicação precisam estar alinhados com o fim – ou arrefecimento do bolsonarismo – na mídia e, para isso é preciso também ter esse olhar para as rádios no país. Há uma diferença na atuação entres as pastas. O Ministério cuida das concessões, já a Secretaria cuida da publicidade. Fala-se, enquanto escrevo esse texto em Paulo Teixeira para o Ministério e Paulo Pimenta para a Secom, ambos do PT.

Lula meio que tem esse feeling, uma vez que sempre prioria entrevistas a emissoras de rádio.

Investir em espaços de mídia independente, alternativa, progressista – o nome que se queira dar – seja na internet, impressos, o que for, será importantíssimo nos próximos quatro anos, mas atuar corretamente junto às rádios será, pelo menos, tanto quanto.

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Assista também – Covardes: Bolsonaro renova concessão da Globo e Paulo Guedes abandona governo

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2 comentários:

Rafael Pereira disse...

Muito bom artigo. O tema da comunicação precisa estar no centro para contribuir com a desintoxicação da República. Parabéns por pautar a discussão. Há um tempo tenho pensado que precisamos retomar a publicação de jornais impressos. Aqui é difícil desenvolver, mas gostaria de saber sua opinião sobre isso. Abraços e parabéns pelo blog.

Cadu Amaral disse...

Obrigado, Rafael. Espero que volte mais vezes e sempre contribua aqui.

Jornais impressos, nos moldes que temos atualmente, tendem a acabar porque não conseguem disputar com a velocidade da internet. Mas jornais impressos ainda possuem o status de credibilidade documental.

Mas se você se refere a jornais impressos como veículos partidários e de sindicatos, por exemplo, poderia ajudar por ser voltado a nichos. Mesmo assim, os custos de materiais impressos são muito altos. Se for em papel jornal, então... Só para você saber, esse tipo de papel é comprado em dólar no Brasil.