Lula, do ABC à Presidência (Fotos: Memorial da Democracia e Ricardo Stuckert ) |
A votação da PEC da Transição na Câmara dos Deputados ocorreu sem grande dificuldades, apesar de não ter sido texto aprovado primeiramente no Senado, é verdade. Mas como já havia adiantado, tanto aqui quanto no Youtube, o texto passaria pelo crivo dos parlamentares. O placar na Câmara foi de 331 votos favoráveis. Lula precisa de 308.
A capacidade de articulação política que Lula possui, pasmem, causou espanto em figuras dessa nova direita que surgiu no Brasil após as “colorices” de 2013. O primeiro espantado a circular nas redes foi o deputado federal Tiago Mitraud, do partido Novo de Minas Gerais.
“Esse governo eleito, que já mostrou ter ampla maioria antes mesmo de se eleger [sic] (ele quis dizer, tomar posse). Já sabíamos que o governo Bolsonaro era fraco, mas não sabia que era tão fraco assim, a ponto de deixar o Lula tomar conta ainda quando o Bolsonaro nem saiu da cadeira”, disse o deputado mineiro.
A outra figura – outras, no plural, na verdade – é o Fernando Holiday. Num programa da Jovem Pan, ele se disse espantado com a capacidade de articulação de Lula.
“Primeiro, antes de mais nada, assusta o poder de articulação do Lula. Nós dissemos aqui que o Lula, nos bastidores, dizia que teria 330 votos na Câmara. Ele teve 331”, disse o espantado neodireita velha, num programa cujos comentaristas são tão limitados quanto ele.
Ora, Lula se fez na política por duas questões centrais: defender os interesses dos trabalhadores – e dos mais pobres – e por ter grande capacidade de diálogo. Inclusive, com os diferentes.
E não, esse texto não é para afirmar que Lula não comete erros ou é a encarnação de alguma santidade qualquer. Ao contrário, Lula é humano e, como tal, comete erros. Mas ele é inteligente e sabe bem que não poder fazer tudo o que quer, do jeito que deseja. Por isso, desde muito cedo aprendeu a fazer política – ainda no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – buscando o diálogo até onde for possível.
Isso significa que Lula sempre obteve êxito em suas negociações? Evidente que não. Isso quer dizer que Lula tem por perfil buscar consensos. E, sim, isso às vezes incomoda, pois para fazer isso é preciso recuar em algumas questões. O que não se faz é perder de vista o horizonte ao qual se deseja chegar.
Tiago Mitraud e Fernando Holiday não entendem de política. Eles entendem de verborragia. E da ultraliberal doentia, ao que consta.
Além do que, a política passou os últimos quatro anos tendo como presidente um ser abjeto, incapaz de sentar numa mesa e discutir sobre política. No cargo, Bolsonaro luxou o quanto pôde e entregou o ato de governar ao centrão e aos militares. Aliás, Bolsonaro foi só um espantalho de parte da cúpula das Forças Armadas.
Então, muitos ali no Congresso, eleitos na leva reacionária de 2018, nunca participaram de uma conversa política de verdade. Daí, o espanto.
Vejam, a capacidade de Lula em dialogar e negociar politicamente não significa conseguir tudo o que se deseja. Significa que a porta da política – e nunca neguemos a política! – estará sempre aberta a quem queira por ela passar.
Arthur Lira sabe disso e justamente por isso, fez tramitar a aprovar a PEC da Transição e não terá com Lula a mesma relação que teve/tem com Bolsonaro, se se mantiver à frente da Câmara dos Deputados entre 2023 e 2024.
Quem deseja ter bom desempenho na política, seja em qual papel for, precisa entender o perfil dos atores ao seu redor.
E quem deseja debater ou participar da política na esfera que Lula está, atua, sem conhecer essa habilidade que ele possui, deveria arrumar outra coisa para fazer. Até para criticar resultados e posições “recuadas” sem considerar isso, é o mesmo que tentar desconstruir uma equação matemática complexa sem saber a tabuada. Ou seja, deveria fazer outra coisa da vida.
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Assista também - Política é xadrez: Lula, transição e o Congresso de Arthur Lira
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