Roberto Freire do PPS |
O
primeiro dia útil da semana foi bem-humorado ao menos na política. O que
proporcionou diversão a simpatizantes do governo Dilma e, ainda que não digam,
provavelmente até a oposicionistas, mais uma vez foi a instantaneidade do
Twitter, rede social em que não poucos escrevem primeiro e pensam depois.
Por Eduardo Guimarães*
Foi
assim que Roberto Freire (político pernambucano que, estranhamente,
candidatou-se a deputado federal por São Paulo em 2010 pela primeira vez na
vida e que, ainda mais estranhamente, conseguiu se eleger) virou piada.
Como
todos já devem saber, Freire exprimiu revolta ao ler piada em um site
humorístico que imita o portal G1, obviamente por ter acreditado. A “notícia”
afirmava que Dilma havia mandado o Banco Central colocar nas cédulas de real a
frase “Lula seja louvado”.
Como
o Twitter não perdoa gafes desse porte, logo alguém criou a hashtag
#LulaSejaLouvado, que, rapidamente, subiu ao topo dos Trending Topics (temas
mais comentados). Freire, então, justificou-se dizendo que, “Em função do
desmantelo e imoralidade dos tempos ‘lulodilmistas’, tal estapafúrdia noticia”
teria “ares de verdade”.
Com
uma dose cavalar de boa vontade poder-se-ia compreender que um homem adulto e
maduro (em termos de idade), letrado, um deputado federal, enfim, acredite em
um site que tem “notícias” como a de que Dilma pretende privatizar parte da
população brasileira (!). Mas a justificativa que deu para a gafe, é
imperdoável.
Para
entender a mentalidade desse cavalheiro, basta lembrar que afirmou certa vez
que os atuais detentores do poder não possuem um projeto de governo. Se
dissesse que discorda do projeto que já venceu três eleições presidenciais
consecutivas, não seria nada. É óbvio que deve discordar se com ele não
concorda. Mas dizer que não existe?!
Ainda
em sua justificativa para gafe tão ridícula, Freire também aludiu a corrupção
dos adversários. Suas palavras: “Lulopetistas histéricos e satisfeitos com a
gafe por mim cometida, mas nada dizem das imoralidades e malfeitorias do
governo Dilma”. Disse isso em um momento em que mais um expoente moralista da
oposição acaba de ser desmascarado.
Então
vamos resumir a mentalidade desse homem. Ele não concede nenhum mérito ao que
chama de “lulodilmismo” e atribui corrupção só aos adversários políticos. E o
que é mais: quer que a sociedade acredite nisso.
Se
disserem ao deputado Roberto Freire que o Brasil é hoje um dos países que mais
progridem no mundo tanto do ponto de vista social quanto econômico, ele dirá
que tudo o que está acontecendo de bom é mérito de seu grupo político, ou seja,
do governo Fernando Henrique Cardoso, e que Lula e Dilma apenas colheram os
frutos de um governo como aquele, que terminou melancolicamente, fortemente
rejeitado pelo povo.
Pode-se
discutir esse ponto, mas, sob tal discurso, não há discussão séria possível.
Nem a mídia – ou a maioria da mídia, porque há exceções – que apóia cinicamente
o grupo político de Freire ousa tanto, preferindo dizer que o sucesso de hoje é
resultado de uma conjunção dos supostos feitos de FHC com os poucos que
reconhece nos governos “lulodilmistas”.
Agora
passemos ao discurso de José Serra ou de sua voz na internet, o blogueiro da
Veja Reinaldo Azevedo, por exemplo, ou ao de tantos outros oposicionistas de
expressão. Só o que veremos é que Freire não está sozinho. Esse é discurso da
oposição e de 150% da militância demo-tucana-pepessista, do que são provas os
comentários que posta neste blog todo dia.
Esse
deputado é a síntese de seu grupo político. Sempre disposto a comprar qualquer
acusação e a fazer qualquer crítica que avalie que possa atingir os
adversários, pouco importando a origem, sem checar nada e, como se vê, sem
refletir um mínimo que seja.
Escrevi
ontem no Twitter e repito aqui: não achei graça na gafe do deputado Roberto
Freire e nem quero espezinhá-lo por ela, ainda que a tentação à veia
humorística deste blogueiro seja quase irresistível. Sinto comiseração por ele
e preocupação com a democracia brasileira. Uma oposição repleta de idiotas
desse porte é perniciosa para o país.
Qualquer
nação democrática precisa de oposição, e quanto mais ela for séria mais
serviços prestará à sociedade. Ora, governo nenhum é composto por santos. Todo
governo precisa ser fiscalizado. Há corrupção no governo Dilma Rousseff, sim,
como há no governo Geraldo Alckmin, no governo Gilberto Kassab e por aí vai.
Pode-se
discordar do projeto desses governos, mas querer vender a teoria de que só no
governo Dilma existe corrupção e negar-lhe êxitos que o mundo inteiro e a
maioria esmagadora dos brasileiros reconhecem explica por que o conjunto deste
povo vem dando reiterados nãos a essa oposição.
E
quando falo de oposição não falo tão-somente da oposição de centro-direita,
mas, também, da de esquerda. No domingo, por exemplo, um militante do PSOL
resumiu a oposição que faz esse partido ao dizer que Dilma “deu 250 bi a
rentistas e 20 bi ao Bolsa Família”…
Caramba!
Dilma é uma mulher muito má, então. É um monstro. Provavelmente fez isso porque
é corrupta, o que o mesmo psolista disse que se pode comprovar por ela ter “se
aliado” a Paulo Maluf e a Jair Bolsonaro. Não, ela não fez aliança com o PP,
mas com esses dois. Só queria saber como o PSOL faria para governar sem
maioria…
Então
vejamos: Dilma é má, pois enche os bolsos dos ricos e dá migalhas aos pobres, e
é corrupta, homofóbica e idiota, pois se alia a um corrupto e a um demente que
acha que todo gay quer levá-lo para a cama.
Esse
é o nível da oposição que temos ao governo Dilma e que, durante oito anos,
tivemos ao governo Lula. E essa oposição também explica cabalmente a rejeição
dos brasileiros aos adversários do PT. Só que isso não deve nos servir de
consolo.
Por
essas razões, a oposição está minguando. O DEM e o PPS estão se desintegrando,
o PSDB, apesar de ainda ter alguma musculatura, também míngua a cada eleição. O
PSOL elegeu 3 deputados federais em 2010. E a população assiste ao moralismo da
oposição de direita ser desmascarado na pessoa de Demóstenes Torres ou na de
José Roberto Arruda.
Até
a imprensa tucana reconhece que a oposição está cada dia mais debilitada. Podem
buscar nas colunas políticas de Folha, Veja, Estadão e Globo que encontrarão
Cantanhêdes, Azevedos, Nêumanes e Mervais dizendo isso.
Ainda
assim, esses colunistas, editorialistas, editores e até os donos desses
veículos não conseguem entender que o povo não vê na oposição a “ética” que ela
e a mídia querem lhe vender. E é por isso que estamos caminhando para ter um
governo com um poder muito maior do que é desejável, pois um poder sem
contrapeso sempre tende ao excesso.
Democratas
como este que escreve ficam sem saída. Não posso ratificar ou deixar de
denunciar as tentativas (agora sim) estapafúrdias dessa gente de vender tais
barbaridades. E, por isso, acabo não podendo exercer fiscalização e ter uma
postura criticamente construtiva, pois estaria ajudando esses dementes a
recuperarem o poder.
Não
se deve rir da idiotia sobre-humana de Roberto Freire, pois não tem graça. Ele
é um resumo vivo da oposição que o Brasil tem hoje, uma oposição que não cumpre
seu papel por exercê-lo com tirania, com burrice, com virulência e com
desonestidade. A gafe desse indivíduo oferece mais motivos para chorar do que
para rir.
*Retirado do Blog da Cidadania – clique aqui
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