É nítida
a sanha condenatória do ministro Joaquim Barbosa no julgamento da AP
470. Também é nítida sua implacável relatividade, seja quanto à
existência de provas, seja quanto a que processo deve ser submetido
à sua “implacabilidade”. Barbosa abriu mão de relatar o
“mensalão” do PSDB, o que ocasionará o reinício de todo o
processo no Supremo Tribunal. Vale ressaltar que este é bem mais
antigo do que o que está sendo julgado agora.
Como
sempre todos os tucanos, os “pelancos” de tucanos e a
autoproclamada grande imprensa regojizam-se nesse julgamento com
boatarias e entrevistas sem fita. Natural, pois esse julgamento pode
ser o último sopro de vida da oposição no Brasil.
Uma das
características desse regojizo é a negação ao debate do caixa 2
em campanhas eleitorais. Vale também ressaltar que segundo os
julgamentos de JB, todo mundo no Congresso será preso. Porque se um
partido, ou acho eu, empresa, financiou campanha eleitoral, o fez por
interesse ilegal e cometeu lavagem de dinheiro. Este ato de
financiamento é natural em campanhas privadas. Porque é isso que as
campanhas eleitorais são, campanhas privadas.
Campanhas privadas para ocupar espaços públicos.
É claro que não pode dar certo.
Aproveitar
o momento para debater a forma das campanhas eleitorais ninguém, ou quase ninguém,
quer. Porquê será?
Se vê um
monte de gente reclamando de corrupção e criminalizando a política.
Até entendo que debater uma reforma política de fato, onde se
discuta, inclusive, as relações entre os poderes e destes com a
sociedade seja bem mais complexo, mas debater o financiamento de
campanha, não.
Já está
mais do que claro que o financiamento privado de campanhas eleitorais
é o pai da corrupção política no Brasil. Levanto aqui somente
algumas situações.
Um
empresário qualquer de um ramo qualquer resolve ajudar
financeiramente uma candidatura qualquer. Por lei, se a doação for
por pessoa jurídica só se pode doar até 3% da declaração de IR
do ano anterior, mas o candidato é amigo de longa data e o
empresário quer doar mais: caixa 2; ou o empresário não quer ou
não pode aparecer na prestação de contas da campanha para que
outras candidaturas, também de pessoas próximas ou não, venham lhe pedir
dinheiro, resultado: caixa 2.
É
possível levantar um sem número de situações onde o caixa 2 é
materializado.
Numa
eleição privada quem tem mais dinheiro tem mai chance de vencer o
pleito. Daí surge o lobby. “Você vota no projeto que eu quero e
te dou dinheiro para a sua reeleição” - diz, não necessariamente
com essas palavras, empresas e empresários de todo o país a
parlamentares, chefes de executivo e até pessoas sem mandato, mas
mas com chances viáveis de vitória eleitoral.
Numa
eleição com financiamento público, o poder dessas empresas cai
drasticamente, em alguns casos sumirá por completo. Financiamento
público requer, a meu ver, voto em listas partidárias. Isso acaba
com o discurso de mini-executivo que muito parlamentares fazem nas
campanhas eleitorais “construí isso, construí aquilo”.
Parlamentar não constrói nada. Não é essa sua função.
Sem falar
da análise das contas eleitorais que passariam a ser apenas as contas
partidárias. Num exercício superficial sobre as eleições desse
ano, basta o seguinte: em Maceió temos em torno de 300 candidatos a
vereador, some a isso mais umas 32 contas partidárias. Você
realmente acha que o TRE vai analisar todas elas? E as contas dos
municípios do interior, dos 102 municípios de Alagoas serão analisadas?
Até para
uma maior fiscalização dos gastos com campanha eleitoral, o
financiamento público é melhor.
Mas o
poder econômico não tem interesse nisso. Vai perder seus agentes
dentro do aparelho de Estado? Parece-me que não.
A
ocultação desse debate pela grande imprensa e pelos moralistas de
plantão se dá, essencialmente, por conta disso. No fundo eles não querem que as coisas
mudem. Que se “moralize” a política nacional. Querem somente
acusar e golpear forças mais democráticas e à esquerda na
sociedade.
Um comentário:
Esse julgamento é um orgasmo jurídicomidiático para deleite dos mercadores da pátria e da "nobreza brasileira", aquela que sugeriu que as empresas fabricassem "produtos para pobre e para ricos" mas que nos palanques e na mídia fala em desigaldade social e ensino de qualidade para todos.
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