Edição do debate favoreceu Collor, apoiado pela grande imprensa |
Mesmo
quem não acompanha política ou tem um olhar mais atento às
práticas jornalísticas no Brasil, já ouviu falar da famosa edição
do debate Lula/Collor na eleição presidencial de 1989. Já ouviu
falar em como a Globo ajudou o candidato da grande imprensa a parecer
mais preparado que Lula para assumir a Presidência da República.
Até o
Boni – todo poderoso da Globo até pouco tempo atrás – admitiu a
manipulação. A edição inverídica foi ao ar no Jornal Nacional na
véspera da votação daquele pleito.
No último
dia 23/10, o mesmo Jornal Nacional da mesma Rede Globo, dedicou 18
minutos dos seus 32 ao julgamento da Ação Penal 470 chamada de
“mensalão”.
Desde o
início do segundo turno que o tema é abordado logo após o guia
eleitoral na TV.
O PT
disputa o segundo turno em seis capitais e a base aliada em todas. Em
todas as cidades onde tem segundo turno, o PT ou partidos da base têm
pelo menos uma candidatura. Em Belém, apesar do candidato ser do
PSOL, que faz oposição ao governo Dilma, conta com o apoio do PT.
Essa
postura da Globo é a mesma desde sua fundação alicerçada na
estrutura da ditadura militar. Mudou apenas o pano de fundo. Se no
período militar a realidade era um “mar de rosas”, desde 2003
com o início do governo Lula, vivemos um “mar de lama”. “Mar
de lama” aliás, que sempre foi o discurso da direita de da grande
imprensa diante da presença de governos de cunho progressista no
país.
Se em
1989 a Globo tinha Boni e o próprio Roberto Marinho, agora ela tem
Ali Kamel e os filhos do Roberto – segundo o Paulo Henrique Amorim,
ele são tão sem identidade que não têm nomes, são apenas os
filhos do Roberto Marinho. Mas sua face golpista a “poderosa”
nunca perde.
É como
se 1989 nunca tivesse acabado, para ficarmos apenas no período pós
ditadura militar.
As
manipulações globais são inúmeras, tendo como um dos ápices a
famigerada “bolinha de papel”.
Em 2010,
num encontro entre caminhadas de campanha de Serra e Dilma, uma
bolinha de papel foi arremessada na confusão e atingiu a cabeça do
tucano. Minutos depois o “vampirão” simulou tonturas e mal estar
como se tivesse sido atingido por uma pedra. Fez até tomografia.
A Globo
preparou uma longa reportagem com exposição de frame para mostrar a
pedra na cabeça do Serra. Nenhum outro veículo acompanhou a “rede
plim plim” em seu devaneio. Em resumo ela perdeu a linha. O SBT
chegou a desconstruir a simulação feita por Ali Kamel dias depois
do JN exibir tal peça de ficção.
Boechat
na Bandeirantes ridicularizou o episódio. Nem o “mamãe eu sou
reaça” do Boris Casoy deu eco à ficção global. Os impressos
também não.
Algo
similar aconteceu depois dos 18 minutos de 32 do JN de 23/10. Até a
Folha de São Paulo, um dos “quartetos do apocalipse midiático”
mostrou incômodo com a “poderosa”, fazendo questão, inclusive
de contar os minutos que cada parte da exibição do tema usou.
A ONG
“Movimento dos Sem Mídia”, presidida pelo jornalista Eduardo
Guimarães entrou com uma ação contra a emissora dos filhos do
Roberto Marinho. Ela baseia-se em descumprimento das Leis brasileiras
por parte da emissora.
A Lei
9.504/97, a chamada Lei Geral das Eleições, em seu artigo 45, diz
que:
A
partir de 1º de julho, ano da eleição, é vedado às emissoras de
rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário,
conforme incisos:
II –
usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de
qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou
coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito;
III –
Veicular propaganda política, ou difundir opinião favorável ou
contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou
representantes;
IV –
Dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;
A
representação pede o fim da concessão de Rede Globo por crime
eleitoral.
Outra
Lei infligida, segundo a ONG “ Movimento dos Sem Mídia”, foi a
Lei de Concessões. É proibido o uso de uma concessão pública de
televisão com fins político eleitorais.
Já
circula nas redes sociais que a Globo prepara um Globo Repórter
sobre o julgamento. O programa vai ao ar as sextas-feiras. Dois dias
antes do segundo turno. Se isso acontecer, certamente teremos uma
“edição especial” do JN no sábado, véspera da eleição.
Vivemos
em um país onde uma única rede de televisão tem um poder maior que
o Estado. Vivemos num país onde temos na Constituição direitos
básico e valores democráticos garantidos, mas que no caso da
comunicação social ainda falta a regulamentação e desde 1988 nada
foi feito.
A
postura da Rede Globo em relação ao povo brasileiro e à democracia
no país demonstra bem o quanto ela nos despreza. Felizmente a cada
dia o povo vai desprezando-a cada vez mais. Não é a toa que mesmo
com a novela “julgamento do século” a votação da esquerda e em
especial do PT cresceu.
O
que mais ela, em permanência no ano de 1989, vai inventar?
Um comentário:
Excelente texto, a Rede Globo é um dos alicerces que mais prejudicam o Brasil em toda a história. 89 foi um dos momentos mais vergonhosos para o Brasil.
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