Raul
Seixas foi músico – e para muita gente, entre as quais me incluo,
gênio e poeta – escreveu em uma de suas músicas que preferia ser
uma metamorfose ambulante a ter a mesma opinião formada sobre tudo.
Obviamente, esta linha de pensamento, apesar de prática comum em
todas as esferas, sempre é negada, pelo menos paradigmaticamente,
pelas elites e pela grande imprensa.
Ora, não
se pode mudar de opinião ao sabor do vento ou pelas conveniências.
Isso é repetido, quase ensinado como um mantra moral em nossa
sociedade.
Nos
últimos meses temos visto posições diversas mudarem. O ônus da
prova deixou de ser de quem acusa, a própria necessidade de provas
em processos deixou de ser necessária e as opiniões da grande
imprensa sobre Joaquim Barbosa, relator da Ação Penal 470 e próximo
presidente do Supremo Tribunal Federal vivem um verdadeiro efeito
sanfona, mal comparando com a situação de quem viva às turras com
a balança.
O
principal articulista ou blogueiro de Veja – a revista do
Cachoeira, a coisa feita em papel couché – Reinaldo Azevedo, em
abril de 2009 publicou que não toleraria defesa de Joaquim Barbosa
por “desrespeito às instituições” e “atuação
destrambelhada”. Segundo o “mamãe eu sou reaça”, JB é incompatível como Supremo e com a democracia.
Em
setembro o mesmo Reinaldo disse que a “arrogância de Barbosa é
espantosa”.
Em
setembro deste ano, a coisa feita em papel couché lançou uma capa
com a foto do ministro criança e a legenda “ o menino pobre que
mudou o Brasil”. Uma alusão a sua atuação na relatoria da Ação
Penal 470, chamada de “mensalão”.
Azevedo
deveria se demitir, pois ele não aceita elogios a Joaquim Barbosa.
Para Azevedo JB é incompatível com o Supremo |
Veja sobre JB: em 2009 arrogante, em 2012 mudou o Brasil |
Recentemente
foi a vez do jornal Estado de São Paulo, ou somente Estadão
sofrer da metamorfose ambulante.
No dia 04
de agosto em seu editorial, o Estadão publicou no segundo parágrafo
o seguinte: “Mas a aspereza com que Barbosa se dirigiu ao colega,
acusando-o de "deslealdade" com o tribunal, para dele ouvir
que usara "um termo forte", prenunciando um horizonte
"muito tumultuado", não deve toldar - a exemplo das
árvores que impedem que se enxergue a floresta - a percepção de
que a tranquilidade, esta, sim, prevaleceu na sessão inaugural de
quinta-feira. Foi um bom começo.”
No último
dia 09 de novembro o editorial do Estadão fez esse comentário sobre
o comportamento de JB: “Desde as primeiras manifestações de
inconformismo com o parecer do revisor da matéria, ministro Ricardo
Lewandowski, a sua atuação destoa do que se espera de um membro da
mais alta Corte de Justiça do País, ainda mais quando os seus
trabalhos podem ser acompanhados ao vivo por todos quantos por eles
se interessem. Em vez da serenidade - que de modo algum exclui a
defesa viva e robusta de posições, bem assim a contestação até
exuberante dos argumentos contrários -, o ministro como que se
esmera em levar "para dentro das famílias" um espetáculo
de nervos à flor da pele, intolerância e desqualificação dos
colegas.”
Mas isso
não se deve a um devaneio qualquer fruto de uma “cachaça mal
tomada” como se diz no popular. Isso deve ao fato de que Marcos
Valério procurou a Procuradoria Geral da República e o próprio STF
para delatar as altas penosidades do tucanato envolvidas no
“mensalão” do PSDB e na “Lista de Furnas”. A delação
premiada que ele quer é sobre esta ação. O caso, até este momento
também está com a relatoria de Joaquim Barbosa. O mesmo pode abrir
mão dela ao assumir a Presidência do Supremo, mas ainda não houve
manifestação oficial disso.
O medo da
grande imprensa é que JB tenha a mesma implacabilidade com os
tucanos que teve com os petistas.
Porém
existe uma diferença básica: no processo do PSDB não haverá
necessidade da excrescência do “domínio do fato”. Nesse há
provas em demasia. Se for apensado a “Lista de Furnas”, aí é
que não sobrará pena sobre pena no PSDB.
Em
entrevista ao Portal Correio do Brasil, o advogado de Marcos Valério
disse que “quanto ao ‘mensalão petista’ não há mais muito o
que fazer, mas na ação contra os tucanos, ele está contando tudo o
que sabe. Minas está em polvorosa, porque a AP 536, após a juntada
do inquérito 3530, transforma-se em um vendaval, capaz de revelar em
detalhes toda a corrupção e demais crimes cometidos pelo alto
escalão da República, na época do governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso”.
No
esquema do PSDB até assassinatos estariam no bojo. A proteção que
Valério quer é medo de morrer.
Segundo o
advogado existem gravações onde pessoas ligadas ao tucanato expõe
o esquema para abafar o “mensalão” tucano.
Não
duvide que se algo acontecer a Marcos Valério antes do julgamento
(se houver) da ação contra o PSDB, a grande imprensa vai culpar o
PT.
Ao que
parece, tanto JB quanto Gurgel estão afinados com a “malemolência”
pra com o tucanato. Gurgel disse não haver necessidade de proteção
a Marcos Valério e JB se recusou a recebê-lo.
Vamos
aguardar.
Tal
comportamento de comadrio se dá desde o procurador anterior que
disse não se lembrar da delação de tucanos feita por Valério. Ele
entregou à PGR recibos e valores dos depósitos feitos a 79 tucanos.
Isso fora a “Lista de Furnas”. Na “Lista” encontram-se FHC e
Gilmar Mendes.
Se a
grande imprensa adota a metamorfose ambulante para realizar seus
malabarismos conjunturais, lembremos de Raul Seixas quando ele diz
que não precisamos ler jornais, porque mentir sozinhos somos
capazes.
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