sábado, 10 de novembro de 2012

Grande imprensa e seu discurso de ocasião


Raul Seixas foi músico – e para muita gente, entre as quais me incluo, gênio e poeta – escreveu em uma de suas músicas que preferia ser uma metamorfose ambulante a ter a mesma opinião formada sobre tudo. Obviamente, esta linha de pensamento, apesar de prática comum em todas as esferas, sempre é negada, pelo menos paradigmaticamente, pelas elites e pela grande imprensa.

Ora, não se pode mudar de opinião ao sabor do vento ou pelas conveniências. Isso é repetido, quase ensinado como um mantra moral em nossa sociedade.

Nos últimos meses temos visto posições diversas mudarem. O ônus da prova deixou de ser de quem acusa, a própria necessidade de provas em processos deixou de ser necessária e as opiniões da grande imprensa sobre Joaquim Barbosa, relator da Ação Penal 470 e próximo presidente do Supremo Tribunal Federal vivem um verdadeiro efeito sanfona, mal comparando com a situação de quem viva às turras com a balança.

O principal articulista ou blogueiro de Veja – a revista do Cachoeira, a coisa feita em papel couché – Reinaldo Azevedo, em abril de 2009 publicou que não toleraria defesa de Joaquim Barbosa por “desrespeito às instituições” e “atuação destrambelhada”. Segundo o “mamãe eu sou reaça”, JB é incompatível como Supremo e com a democracia.

Em setembro o mesmo Reinaldo disse que a “arrogância de Barbosa é espantosa”.


Em setembro deste ano, a coisa feita em papel couché lançou uma capa com a foto do ministro criança e a legenda “ o menino pobre que mudou o Brasil”. Uma alusão a sua atuação na relatoria da Ação Penal 470, chamada de “mensalão”.

Azevedo deveria se demitir, pois ele não aceita elogios a Joaquim Barbosa.

Para Azevedo JB é incompatível com o Supremo


Veja sobre JB: em 2009 arrogante, em 2012 mudou o Brasil


Recentemente foi a vez do jornal Estado de São Paulo, ou somente Estadão sofrer da metamorfose ambulante.

No dia 04 de agosto em seu editorial, o Estadão publicou no segundo parágrafo o seguinte: “Mas a aspereza com que Barbosa se dirigiu ao colega, acusando-o de "deslealdade" com o tribunal, para dele ouvir que usara "um termo forte", prenunciando um horizonte "muito tumultuado", não deve toldar - a exemplo das árvores que impedem que se enxergue a floresta - a percepção de que a tranquilidade, esta, sim, prevaleceu na sessão inaugural de quinta-feira. Foi um bom começo.”

No último dia 09 de novembro o editorial do Estadão fez esse comentário sobre o comportamento de JB: “Desde as primeiras manifestações de inconformismo com o parecer do revisor da matéria, ministro Ricardo Lewandowski, a sua atuação destoa do que se espera de um membro da mais alta Corte de Justiça do País, ainda mais quando os seus trabalhos podem ser acompanhados ao vivo por todos quantos por eles se interessem. Em vez da serenidade - que de modo algum exclui a defesa viva e robusta de posições, bem assim a contestação até exuberante dos argumentos contrários -, o ministro como que se esmera em levar "para dentro das famílias" um espetáculo de nervos à flor da pele, intolerância e desqualificação dos colegas.”

Mas isso não se deve a um devaneio qualquer fruto de uma “cachaça mal tomada” como se diz no popular. Isso deve ao fato de que Marcos Valério procurou a Procuradoria Geral da República e o próprio STF para delatar as altas penosidades do tucanato envolvidas no “mensalão” do PSDB e na “Lista de Furnas”. A delação premiada que ele quer é sobre esta ação. O caso, até este momento também está com a relatoria de Joaquim Barbosa. O mesmo pode abrir mão dela ao assumir a Presidência do Supremo, mas ainda não houve manifestação oficial disso.

O medo da grande imprensa é que JB tenha a mesma implacabilidade com os tucanos que teve com os petistas.

Porém existe uma diferença básica: no processo do PSDB não haverá necessidade da excrescência do “domínio do fato”. Nesse há provas em demasia. Se for apensado a “Lista de Furnas”, aí é que não sobrará pena sobre pena no PSDB.

Em entrevista ao Portal Correio do Brasil, o advogado de Marcos Valério disse que “quanto ao ‘mensalão petista’ não há mais muito o que fazer, mas na ação contra os tucanos, ele está contando tudo o que sabe. Minas está em polvorosa, porque a AP 536, após a juntada do inquérito 3530, transforma-se em um vendaval, capaz de revelar em detalhes toda a corrupção e demais crimes cometidos pelo alto escalão da República, na época do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso”.

No esquema do PSDB até assassinatos estariam no bojo. A proteção que Valério quer é medo de morrer.

Segundo o advogado existem gravações onde pessoas ligadas ao tucanato expõe o esquema para abafar o “mensalão” tucano.

Não duvide que se algo acontecer a Marcos Valério antes do julgamento (se houver) da ação contra o PSDB, a grande imprensa vai culpar o PT.

Ao que parece, tanto JB quanto Gurgel estão afinados com a “malemolência” pra com o tucanato. Gurgel disse não haver necessidade de proteção a Marcos Valério e JB se recusou a recebê-lo.

Vamos aguardar.

Tal comportamento de comadrio se dá desde o procurador anterior que disse não se lembrar da delação de tucanos feita por Valério. Ele entregou à PGR recibos e valores dos depósitos feitos a 79 tucanos. Isso fora a “Lista de Furnas”. Na “Lista” encontram-se FHC e Gilmar Mendes.

Se a grande imprensa adota a metamorfose ambulante para realizar seus malabarismos conjunturais, lembremos de Raul Seixas quando ele diz que não precisamos ler jornais, porque mentir sozinhos somos capazes.



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