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Fonte: UOL |
A
presidenta Dilma Rousseff concedeu entrevista à Folha de S. Paulo desse domingo
(28/07). Nela podemos ver claramente que as perguntas são derivadas das invencionices
dos editoriais da “grande imprensa”. Perguntas como se ministros da Dilma
choraram após tomarem bronca. Tive a sensação de que a repórter da Folha
acompanha o planalto pelo Kibe Louco.
Outra
é tentar criar algum destempero entre ela e Lula ou fazê-la comentar sobre sucessão
presidencial em 2014. Realmente a Folha pensa que Dilma é um poste. Talvez por
isso a direita não tenha candidato, nem agenda para além do terrorismo
midiático e do obscurantismo.
As
melhores partes são quando Dilma fala do emprego, PIB e inflação. Coisas que
ela deveria ir às cadeias de rádio e tevê toda semana desfazer o maquiamento da
realidade orquestrada pelos redatores do quarteto do apocalipse midiático:
Globo, Veja, Folha e Estadão. Também merece destaque a pergunta sobre o
programa Mais Médicos.
E
por ossos do ofício ela defendeu o Paulo “plim plim” Bernardo. Mas falou em regulação
da mídia. Reafirmou que não defende “regulação do conteúdo, mas do negócio”. Até
por que a Constituição já regula o conteúdo. Se não acredita, leia os artigos
220 a 224. De todo jeito esse é o ponto central da democratização dos meio de
comunicação: fim da propriedade cruzada, dos monopólios e oligopólios no setor.
Alguns
jornalistas, como o Paulo Henrique Amorim cobram dela uma coletiva com os
blogueiros, ou então que esses participem das coletivas em geral. Concordo plenamente
com PHA, mas vale lembrar que lula apenas recebeu os blogueiros no final do seu
segundo mandato. Estamos falando do principal instrumento de dominação
ideológica e política: a mídia. Superar essas barreiras não é fácil, mas o
incômodo já é percebido.
No
mais, leiam abaixo a entrevista.
Retirado do
perfil de Eduardo Guimarães no Facebook
Folha - As
manifestações deixaram jornalistas, sociólogos e governantes perplexos. E a
senhora, ficou espantada?
Dilma Rousseff - No discurso que fiz na comemoração dos dez
anos do PT, em SP [em maio], eu já dizia que ninguém, ninguém, quando conquista
direitos, quer voltar para trás. Democracia gera desejo de mais democracia.
Inclusão social exige mais inclusão. Quando a gente, nesses dez anos [de
governo do PT], cria condições para milhões de brasileiros ascenderem, eles vão
exigir mais. Tivemos uma inclusão quantitativa. Esta aceleração não se deu na
qualidade dos serviços públicos. Agora temos de responder também aceleradamente
a essas questões.
Mas a senhora
não ficou assustada com os protestos?
Não. Como as
coisas aconteceram de forma muito rápida, eu acho que todo mundo teve
inicialmente uma reação emocional muito forte com a violência [policial],
principalmente com a imagem daquela jornalista da Folha [Giuliana Vallone] com
o olho furado [por uma bala de borracha]. Foi chocante. Eu tenho neurose com
olho. Já aguentei várias coisas na vida. Não sei se aguentaria a cegueira.
Se não fosse
presidente, teria ido numa passeata?
Com 65 anos, eu
não iria [risos]. Fui a muita passeata, até os 30, 40 anos. Depois disso, você
olha o mundo de outro jeito. Sabe que manifestações são muito importantes, mas
cada um dá a sua contribuição onde é mais capaz.
O prefeito
Fernando Haddad diz que, conhecendo o perfil conservador do Brasil, muitos se
preocupam com o rumo que tudo pode tomar.
Eu não acho que
o Brasil tem perfil conservador. O povo é lúcido e faz as mudanças de forma
constante e cautelosa. Tem um lado de avanço e um lado de conservação. Já me
deram o seguinte exemplo: é como um elefante, que vai levantando uma perna de
cada vez [risos]. Mas é uma pernona que vai e "poing", coloca lá na
frente. Aí levanta a outra. Não galopa como um cavalo. Aí uma pessoa disse:
"É, mas tem hora em que ele vira um urso bailarino". Você pode achar
que contém a mudança em limites conservadores. Não é verdade. Tem hora em que o
povo brasileiro aposta. E aposta pesado.
A senhora teve
uma queda grande nas pesquisas.
Não comento
pesquisa. Nem quando sobe nem quando desce [puxa a pálpebra inferior com o
dedo]. Eu presto atenção. E sei perfeitamente que tudo o que sobe desce, e tudo
o que desce sobe.
Mas isso fez
ressurgir o movimento "Volta, Lula" em 2014.
Querida, olha,
vou te falar uma coisa: eu e o Lula somos indissociáveis. Então esse tipo de
coisa, entre nós, não gruda, não cola. Agora, falar volta Lula e tal... Eu acho
que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu. Ele disse outro
dia: "Vou morrer fazendo política. Podem fazer o que quiser. Vou estar
velhinho e fazendo política".
Para a
Presidência ele não volta nunca mais?
Isso eu não sei,
querida. Isso eu não sei.
Ao menos não em
2014.
Esses problemas
de sucessão, eu não discuto. Quem não é presidente é que tem que ficar
discutindo isso. Agora, eu sou presidente, vou discutir? Eu, não.
Mas o Lula
lançou a senhora.
Ele pode lançar,
uai.
O fato de usarem
o Lula para criticá-la não a incomoda?
Querida, não me
incomoda nem um pouquinho. Eu tenho uma relação com o Lula que tá por cima de
todas essas pessoas. Não passa por elas, entendeu? Eu tô misturada com o
governo dele total. Nós ficamos juntos todos os santos dias, do dia 21 de junho
de 2005 [quando ela assumiu a Casa Civil] até ele sair do governo. Temos uma
relação de compreensão imediata sobre uma porção de coisas.
Mas ele teria
criticado suas reações às manifestações.
Minha querida,
ele vivia me criticando. Isso não é novo [risos]. E eu criticava ele. Quer
dizer, ele era presidente. Eu não criticava. Eu me queixava, lamentava [risos].
Como a senhora
vê um empresário como Emílio Odebrecht falar que quer que o Lula volte com
Eduardo Campos de vice?
Uai, ótimo para
ele. Vivemos numa democracia. Se ele disse isso, é porque ele quer isso.
Sua principal
proposta em reação às manifestações foi a realização de um plebiscito para
fazer a reforma política. A crítica à senhora é que ninguém nas passeatas pedia
isso.
Pois acho que tá
todo mundo pedindo reforma política. As manifestações podiam não ter ainda um
amadurecimento político, mas uma parte tem a ver com representatividade,
valores, o que diz respeito ao sistema político. Ao fato de que os interesses
se movem conforme o financiamento das campanhas. Não dá para cuidar de
transparência sem discutir o sistema. "O gigante despertou", diziam
nos protestos --o que mostra o inconformismo com a nossa forma de
representação.
O Congresso
Nacional fará reforma contra ele mesmo?
Querida, por
isso que eu queria um plebiscito. A consulta popular era a baliza que daria
legitimidade à reforma.
Mas a senhora
concorda que o plebiscito não sai?
Eu não concordo
com nada, minha querida. Eu penso que é importante sair. E não sei ainda se não
sai. Eu acho que é inexorável. Se você não escutar a voz das ruas, terá novos
problemas.
E a saúde? Os
profissionais da área dizem que o Mais Médicos é uma maquiagem porque o país
tem uma estrutura precária de atendimento.
É? Pois é.
Acontece que botamos dinheiro em estrutura. Jornais e TVs mostram que há
equipamentos sem uso. Como você explica que 700 municípios não têm nenhum
médico? E que 1.900 têm menos de um médico por 3.000 habitantes? Uma coisa é
certa: eu, com médico, me viro. Sem médico, eu não me viro.
O PMDB engrossou
o coro dos que defendem o enxugamento de ministérios.
Não estou
cogitando isso. Não acho que reduza custos. As medidas de redução de custeio,
nós tomamos. Todas. E sabe o que acontece? Vão querer cortar os de Direitos
Humanos, Igualdade Racial, Política para as Mulheres. São pastas sem a máquina
de outros. Mas são fundamentais. Política de cotas, por exemplo: só fizemos
porque tem gente que fica ali, ó, exigindo.
A senhora sabe
falar o nome de seus 39 ministros?
De todos. E
todos eles ficam atrás de mim [risos]. Eu acho fantástico vocês [jornalistas]
acharem que, nesse mundo de mídias, o despacho seja apenas presencial. Os
ministros passam o tempo inteirinho me mandando e-mail, telefonando, conversando.
O ministro Guido
Mantega está garantido no cargo?
O Guido está
onde sempre esteve: no Ministério da Fazenda. E vocês podem me matar, mas eu
não vou falar de reforma ministerial.
O desemprego em
junho subiu pela primeira vez em quatro anos, na comparação com o mesmo mês do
ano anterior.
Querida, o
desemprego... [Consulta papéis.] Olha aqui, ó. É fantástico. Tem dó de mim, né?
Como não podem falar de inflação, porque o IPCA-15 [prévia do índice oficial]
deu 0,07% neste mês... E nós temos acompanhamento diário da inflação, tá? Hoje
deu menos 0,02%. Tá? Ela [inflação] é cadente, assim, ó [aponta o braço para
baixo].
E o emprego?
Houve uma
variação. Foi de 5,9% para 6%. É a margem da margem da margem. Foram gerados
123.836 empregos celetistas. Em todo o primeiro mandato do Fernando Henrique
Cardoso foram gerados 824.394 empregos. Eu, em 30 meses, gerei 4,4 milhões.
Você vai me desculpar.
Com a inflação,
também... Alguém já disse quanto é que caiu o preço do tomate? Ou só comentaram
quando o tomate aumentou? [Pede para uma assessora checar os números. Ela
informa que o tomate está custando R$ 4,50 o quilo.]
Eu não sou dona
de casa, não posso mais ir no supermercado e não sei o preço do tomate hoje.
Mas sei a estatística do tomate. Teve uma queda, se não me engano, de 16%. Eu
ia naquele supermercado ali, ó [aponta a janela]. Não posso mais.
A senhora acha
que os críticos do governo exageram?
Eu propus cinco
pactos [depois das manifestações]. E eu tenho um sexto, sabe? Que é o pacto com
a verdade. Não é admissível o que se faz hoje no Brasil. Você tem uma situação
internacional extremamente delicada. Os EUA se recuperam, mas lentamente. Nós temos
um ajuste visível na China. O Fed [Banco Central dos EUA] indicou que deixaria
o expansionismo monetário, o que provocou a desvalorização de moedas em todo o
mundo. E o país, nessa conjuntura, mantém a estabilidade. Cumpriremos a meta de
inflação pelo décimo ano consecutivo. Sabe em quantos anos o Fernando Henrique
não cumpriu a meta? Em três dos quatro anos dele [em que a meta vigorou].
A inflação subiu
por vários meses no período de um ano.
Nós tivemos a
quebra na produção agrícola americana, que afetou os mercados de commodities
alimentares. Tivemos uma seca forte no Nordeste e também no sul.
A crítica é que
a senhora relaxou no controle da inflação para manter o crescimento.
Ah, é? Tá bom. E
como é que ela tá negativa agora?
Há dúvidas
também em relação à política fiscal.
A relação dívida
líquida sobre PIB nunca foi tão baixa. A dívida bruta está caindo. O deficit da
Previdência é 1% do PIB. As despesas com pessoal, de 4,2%, as menores em dez
anos. Como é que afrouxei o fiscal? Quero falar do futuro. De agosto até o
início do ano que vem, faremos várias concessões, rodovias, ferrovias,
aeroportos e portos, o que vai contribuir para a ampliação dos investimentos e
para melhorar a competitividade da economia.
Mas o Brasil
cresce pouco.
O mundo cresce
pouco. Nós não somos uma ilha. Você não está com aquele vento a favor que
estava, não. Nós estamos crescendo com vendaval na nossa cara.
O modelo de
crescimento pelo consumo não se esgotou?
É uma tolice
meridiana falar que o país não cresce puxado pelo consumo. Os EUA crescem
puxados pelo consumo e pelo investimento. Nós temos que aumentar a taxa de
investimento no Brasil. Aí eu concordo. Tanto que tomamos medidas fundamentais
para que isso ocorra. Reduzimos os juros. Desoneramos as folhas de pagamento.
Reduzimos a tarifa de energia. E fizemos um programa ousado de formação
profissional, o Pronatec.
Os investimentos
estão lentos e isso é creditado ao governo. Os empresários reclamam que a
senhora não tem diálogo.
Eu? Veja a
agenda de qualquer tempo da minha vida. Participei de todos os leilões, do
período Lula e do meu. Entendo que eles [empresários] queiram conversar comigo,
como faziam sistematicamente. Mas sou presidente. Eu não posso mais discutir
taxa interna de retorno.
É outra crítica:
o governo interfere, quer definir até a taxa.
É da vida o
empresário pedir mais, o governo pedir menos. Aí ganha no meio. O Tribunal de
Contas da União exige a definição de uma taxa de retorno. E o governo tem de
ter sensibilidade para perceber quando está errado.
A senhora teria
características que não contribuiriam para que projetos deslanchem. Seria
centralizadora, autoritária.
Não, eu não sou
isso, não. Agora, eu sei, como toda mulher, que, se você não acompanha as coisas
prioritárias, tem um risco grande de elas não saírem. É que nem filho. Você
ajuda até um momento, depois deixa voar.
A senhora já fez
ministros chorarem com suas broncas?
Ah, que
ministros choram o quê! Aquela história do [ex-presidente da Petrobras José
Sergio] Gabrielli? Um dia escreveram que ele era pretensioso e autoritário. No
dia seguinte, que eu tinha brigado e que ele chorou no banheiro. A gente ligava
pra ele: "Eu queria falar com o autoritário chorão". Ô, querida, você
conhece o Gabrielli? Ah, pelo amor de Deus.
A senhora não é
dura demais?
Ah, querida, eu
exijo bastante. O que exijo de mim, exijo de todo mundo.
Isso não inibe
ministros?
Não tenho visto
eles inibidos, não. Nenhum projeto de governo sai da cabeça de uma pessoa só.
Não funciona assim. Se funcionasse, eu tava feita. Não trabalharia tanto.
Uma das questões
que Lula encaminhou no fim do governo foi o da regulamentação da radiodifusão
no país. A senhora enterrou esse assunto?
Não. Agora, o
que eu e Lula jamais aceitaremos é que se mexa na liberdade de expressão. Vou
te dizer o seguinte: não sou a favor da regulação do conteúdo. Sou a favor da
regulação do negócio.
O que acha de o
ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, ser chamado por críticos de
"ministro do Plim-Plim"?
É um equívoco,
uma incompreensão. Essa discussão [da regulação] está sempre posta. O [ex-chefe
da Secretaria de Comunicação Social] Franklin [Martins] deixou um legado
importante. E agora vai ter mais discussão. A regulação em algum momento terá
de ser feita. Mas ela não é igual ao que se pensou há três anos. É algo
complexo, até o que deve ser regulado terá de ser discutido.
Por quê?
Hoje o que está
em questão não é mais empresa jornalística versus telecomunicações, TV versus
jornais. Hoje tem a internet. Tem um problema sério, nos EUA, no Brasil, para
jornais escritos, revistas. Vai haver problema de concorrência da internet, da
plataforma IP, em TV.
Temos de
discutir. Eu não tenho todas as respostas. Todo mundo terá de participar. O
Google hoje atrai mais publicidade que mídias que até há pouco eram as segundas
colocadas. A vida é dura. E não é só para o governo. [Dilma pede que a conversa
seja encerrada, alegando cansaço]. Gente, preciso ir. Estou tontinha da silva
[risos].
Ia perguntar
sobre seus prováveis adversários em 2014, Aécio Neves e Marina Silva.
[Em tom de
brincadeira] Não fica triste, mas sobre isso eu não ia responder, não.
2 comentários:
A questão é uma só: ou aprovamos uma lei geral das comunicações, ou a velha mídia conseguirá colocar Serra (ou Aécio, ou Eduardo, ou Joaquim) no governo e todos os avanços conquistados serão perdidos.
Faço minhas as palavras do Locatelli. É simples assim. O que PT e o governo estão esperando?!
Roberto Silva
twitter.com/pRVdss
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