E
a votação do Marco Civil da internet foi adiada mais uma vez sob o risco de ser
reprovado na Câmara dos Deputados. E mais uma vez o imbróglio foi criado pelo
PMDB e sua “fome” descomunal. E o tipo de mídia que consegue abalar, mesmo que
minimamente, os grandes conglomerados de mídia e segue sem regulamentação.
Convenhamos
que se for para o Marco Civil for aprovado sem a neutralidade de rede, é melhor
deixar como está. E a dúvida que fica no ar é a quantidade de “comida” para
saciar a “fome” do PMDB de Eduardo Cunha, líder do partido na Câmara.
É
claro que há interesses na derrubada da neutralidade de rede da internet para
além das características do PMDB. Como já afirmado, a internet abala o poder
dos conglomerados de mídia no seu controle sobre a informação que circula no
país.
Está
em voga no Brasil o “jornalismo de dossiê”. Termo usado por Bernardo Kucinski
em “Jornalismo na Era Virtual – ensaios sobre o colapso da razão ética”, lançado em
2004 pelas editoras Fundação Perseu Abramo e Editora UNESP. Segundo o autor, esse
tipo de jornalismo ganhou força no período do segundo governo FHC e não precisa
ser especialista em comunicação para ver que essa prática inunda os
noticiários.
Ainda
segundo Kucinski, o “jornalismo de dossiê” é uma das versões do denuncismo. Puro
e barato, com o único objetivo de confundir a opinião das pessoas em favor dos
interesses da imprensa grande e a classe que ela representa.
“O
objetivo do jornalismo de dossiês não é verificar a veracidade de eventuais
acusações para levar o acusado aos tribunais, e sim o de linchar a vítima no
espaço público da mídia. Não havendo julgamento formal, o acusado não precisa
se dar ao trabalho de se defender e nem de recorrer a advogados. Por isso, o
jornalismo de dossiê também não se preocupa em ‘ouvir o outro lado’, como manda
o manual de redação do próprio jornal. [...] é, assim, uma modalidade de
justiça sumária ministrada diretamente pela imprensa, segundo seus próprios
ritos. A imprensa define quais são os crimes – que, como vimos, não são
necessariamente os capitulados em lei – e qual a punição: quase sempre a
difamação da vítima, a destruição de sua imagem”. (pág. 67)
A
internet dá a oportunidade de livramento das amarras dos barões da mídia. Dá oportunidade
do contraponto às campanhas difamatórias da imprensa grande e ajuda a
equilibrar a disputa pela narrativa da realidade. Em um país como o Brasil, que
tem a mídia mais concentrada do planeta, a internet é fundamental para a
democracia.
É
claro que a regulamentação dos meios de comunicação eletrônicos é também de
suma importância. Mas enquanto essa batalha não é vencida, temos a internet
como instrumento central. Sem ela, a lei dos meios fica a – ainda mais – anos luz
de acontecer.
Em
maio de 2002, Kucinski participou de uma palestra na Conferência de Comunicação
da Pastoral da Comunicação da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Sua fala foi transformada em texto e está publicado em “Jornalismo na Era
Virtual – ensaios sobre o colapso da razão ética”.
Se
a discussão do Marco Civil já estivesse em voga naquela época, os cabelos dos
barões da mídia estariam arrepiados há mais tempo.
O
autor em nenhum momento tira da internet seu caráter liberal e individualista
com traços ideológicos como a flexibilização de relações de trabalho ou culto
ao “indivíduo-empresário”, mas evidencia o poder que ela tem como instrumento
ao que se resignam contra o neoliberalismo e hoje, contra a manipulação e a
concentração dos meios de comunicação. Neoliberalismo era o grande tema
político em 2002.
“Do
ponto de vista tecnológico, é um erro considerar a revolução da microeletrônica
um mero desdobramento da revolução industrial que criou a máquina no século
XVII. As novas tecnologias levam a organização da produção a uma direção oposta
à da revolução industrial. Grupos amplos de trabalhadores, em especial os
intelectuais, recuperam uma autonomia relativa que havia sido destruída impiedosamente
pelo capital intensivo da revolução industrial do século XVIII. Esse é o maior
significado da atual revolução tecnológica. Ela é barata, anticoncentradora e
libertária. E tem alcance quase infinitos.” (págs. 71 e 72)
Na
internet a mesma pessoa – sem os grandes aportes econômicos que possuem o
grande capital – pode publicar livros, manter sites e blogs com informações que
todo o tipo, publicar vídeos e áudios (podcasts),
mas não de forma simplória, e sim, com formato jornalístico da tevê e do rádio.
Até filmes podem ser produzidos e disponibilizados na internet com um alcance
incontável.
Essa
mesma pessoa pode realizar transmissões ao vivo de qualquer parte do planeta. E
pode ter mais audiência que a mais poderosa rede televisão existente. E com outro
fator essencial: a interatividade.
A
internet é um mundo novo, onde as pessoas vão descobrindo novas narrativas da
realidade que as cerca. E isso é um pesadelo para o baronato midiático. Era deles
a exclusividade sobre essa narrativa. “[a internet] rompe a verticalidade e a
concentração das agências tradicionais e alimenta não apenas jornais a partir
de escritórios centrais, mas liga também ONGs, produtores intelectuais e
movimentos políticos e sociais.” (págs. 73 e 74)
E
como a internet sendo consumida pelas massas é novidade, daí o espanto como
movimentos com a volta da ditadura civil-militar ao Brasil. eles sempre
existiram, mas agora estão visíveis. Graças à internet.
A
sociabilização e troca de experiências entre pessoas geograficamente distantes,
mas a um simples toque do botão de um teclado é horripilante aos olhos de quem
detinha a exclusividade da informação. E de forma em que apenas despejava o que
queria, sem um retorno. Na internet, não. Há a interatividade e, por mais que
os sites da grande mídia – ou não – não estimulem de verdade essa troca, ela
não pode ser freada. Mas pode ser limitada, e cair a neutralidade de rede.
Em
poucas palavras a neutralidade de rede é apenas a garantia que você que agora
lê esse blog o faz com a mesma velocidade com que lê um grande portal da
imprensa grande. A rapidez do clique, com a rede neutra, é a mesma. E isso faz
uma diferença.
Imagine
se alguém irá esperar determinado site abrir sua página por mais de alguns
segundos. Sem a neutralidade de rede, blogs como esse levarão alguns minutos
para abrir em sua tela, pois aqui não há condições de disputar economicamente
com os grandes conglomerados e, convenhamos, mesmo que tivesse, não há a mínima
vontade de encher ainda mais os donos das empresas de telecomunicação.
A Reforma Política é necessária e urgente. A sociedade carece aperfeiçoar a democracia representativa. Fortalecer a democracia direta e a participativa.
ResponderExcluirÉ deprimente ver um congresso legítimo representante do interesse social, criando celeuma e contra argumentando a favor do seu financiamento individualista imoral e excludente.