Simone Tebet deve ser ministra de Lula (Foto: Reprodução) |
Política não é um exercício baseado apenas na vontade. Política é ação dentro da realidade concreta, que resultam na correlação de forças possível para se fazer chegar a um objetivo. Simone Tebet, senadora do MDB em fim de mandato, foi candidata à Presidência da República neste ano, ficou em terceiro lugar com 4,16% dos votos. No segundo turno, entrou de cabeça pela eleição de Lula (PT), que venceu o pleito por diferença de 1,8%.
Esta foi uma eleição presidencial na qual tivemos, na prática, dois segundos turnos. E como falei há alguns meses em meu canal no Youtube (LINK), quando Simone Tebet peitou boa parte do MDB para se lançar nas eleições, essa candidatura não ameaçaria o cenário de disputa entre Lula e Bolsonaro. Como, de fato, ocorreu.
Contudo, é preciso reconhecer o papel dela no segundo turno. Lula venceria sem a presença da emedebista na campanha? Nunca saberemos, uma vez que não existem contrafatos. Não há como saber, com certeza, como as coisas se dariam se algo fosse diferente porque não é possível mudar o que já aconteceu.
Mas a presença dela foi, sim, de grande ajuda. Especialmente, na questão de dar mais amplitude política à candidatura de Lula e de isolamento à de Bolsonaro.
Simone Tebet, por mérito próprio e pela aquela “ajudinha” da mídia grande, ganhou mais notoriedade do que corresponde aos votos que possui entre os brasileiros. De boa oratória, a senadora também se destacou nos debates, mas estes espaços são para os “cracudos da política” e quem viu seus bons desempenhos discursivos, já tinha sua opção de voto.
Mesmo assim, Lula é grato à Simone Tebet por sua participação na campanha. Aliás, uma das características mais reconhecidas do petista é a gratidão. E isso é algo que ele mesmo já afirmou em relação à emedebista. E mais de uma vez.
Lula também já externou, por mais de uma vez, desejar ter Tebet em seu ministério. E no que depender dele, assim será.
Mas Lula sabe, assim como tantos outros, que política não é somente questão de vontade, mas de condições concretas e objetivas. Por isso, o desejado Ministério do Desenvolvimento Social por Simone Tebet pode não lhe ser dado para comandar.
A pasta é importante politicamente porque coordena os programas sociais, a exemplo do Bolsa Família. É um espaço que dá muita visibilidade política. Logo, cravar que a emedebista ocupará esta pasta é tirar uma carta do jogo antes de ele entrar na reta final.
Lula tem que lidar com a “fome” de parlamentares de dezenas de partidos no Congresso Nacional. Sua coligação não elegeu a maioria dos deputados federais, nem de senadores. E antes de fechar a nominata da Esplanada, é preciso aprovar a PEC da Transição. E o jogo para isso é grande e bruto, como comentei no texto anterior (LINK).
Lula tem até a véspera de sua posse, em 1º de janeiro de 2023, para decidir. Mas isso deve vir antes.
Segundo a imprensa, Simone Tebet teria adotado uma postura de “tudo ou nada” em relação ao Ministério do Desenvolvimento Social. Se isso, de fato, ocorreu. Ela errou e errou feio. Agiu como amadora na política.
Ela não tem poder de barganha algum neste momento. E isso se dá mesmo com o MDB decidido que será o nome dela a ocupar um espaço no primeiro escalão do governo Lula. O outro emedebista deve ser o ex-governador de Alagoas, e senador eleito, Renan Filho. Mas aí é cota pessoal de Lula em agradecimento a Renan Calheiros, que o apoiou desde o início e ainda mobilizou boa parte do MDB para fazer o mesmo.
O dilema de Simone Tebet, partindo do pressuposto de que o “tudo ou nada” é real, é ou comandar uma pasta que – em princípio – não quer, ou não comandar nada. Quantos políticos você conhece que sobrevivem politicamente sem mandatos ou espaços administrativos, especialmente, em nível nacional?
Pois é.
Simone Tebet terá seu espaço no governo Lula e pode até ser o Desenvolvimento Social, quem sabe? Mas também pode não ser o que ela deseja nesse momento. No limite, a escolha de seu futuro político está nas mão dela mesma.
Quanto a nós, que acompanhamos tudo pelo noticiário, cabe conter nossa ansiedade. A política tem seu tempo e quem morre de véspera é peru de Natal.
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