Bairro Pinheiro, em Maceió (Foto: Edilson Omena) |
Em Alagoas, o patrocínio da mineradora Braskem à edição 23 do programa BBB, da rede Globo, revoltou inúmeros internautas alagoanos e ex-moradores de quatro bairros de Maceió, capital de Alagoas. Em 2018, um tremor de terra no bairro Pinheiro deu início a um pesadelo coletivo de dezenas de milhares de pessoas.
Após décadas de exploração de um mineral chamado sal-gema, quatro bairros da capital alagoana começaram a, literalmente, afundar. Os locais foram abandonados por famílias que residiam nesses bairros por gerações. Além do Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto também foram afetados.
Com mais ênfase no bairro do Pinheiro, os locais parecem ter sido alvos de uma guerra.
Na pressa de dar respostas à sociedade, um acordo de indenização coletiva foi firmado entre a empresa, ministérios públicos Federal e Estadual e Poder Judiciário, além de outros de reconstrução das áreas afetadas, que também envolvem a Prefeitura de Maceió.
Moradores reclamam dos baixos valores pagos, aceitados para não entrarem numa longa – e provavelmente interminável – briga judicial. O dinheiro destinado à Prefeitura de Maceió, cujo valor ninguém sabe ao certo, ajuda ao gestor da vez – neste momento JHC (PL) – a executar ações. No caso, ao que parece, réplicas gigantes de cadeiras e skates, além de grandes shows, têm tido a preferência.
“Parece” porque não posso afirmar que são os recursos de acordos com o Município de Maceió é que estão sendo usados para custear o que acabei de citar.
Mas é justamente o poder do dinheiro que tem dado a sensação de impunidade ao que a Braskem fez com a capital de Alagoas. A exploração de sal-gema, quando iniciou na década de 1970, já era criticada por especialistas, mas valeu a lógica do dinheiro que entraria nos cofres públicos locais. A empresa, então, se chamava Salgema.
Ao longo do tempo, foi prática regular da Braskem, desde os tempos de Salgema, financiar campanhas eleitorais – e aqui me refiro ao financiamento legal, com nota fiscal, e não ao chamado caixa 2.
A Braskem, enquanto permitido por lei, financiou candidaturas de todas as matrizes ideológicas. Todas, sem exceção!
Afinal, Alagoas, historicamente, sempre foi desprovida de grandes empresas, tendo sua econômica severamente concentrada na produção de cana-de-açúcar. Apenas a Braskem competia – e talvez ainda compita – em poderia financeiro com o setor sucroalcooleiro em Alagoas. Logo, procurar a mineradora para financiar campanhas eleitorais não é algo extraordinário na política alagoana.
E isso explica – talvez não só – o fato de que ao longo dessas décadas, os órgãos responsáveis pela fiscalização da exploração do sal-gema tenham permitido que a situação em Maceió chegasse aonde chegou.
A Braskem financiou candidaturas a prefeitos, governadores, deputados estaduais, federais, senadores. Deu dinheiro para campanha eleitoral a adversários no mesmo pleito. Evidente que aqueles com mais afinidade ideológica recebiam mais. Porém, todos receberam.
No portal DivulcandContas, do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), é possível encontrar o registro das doações até as eleições de
2016, última na qual era possível a doação de empresas a campanhas eleitorais.
Por exemplo, nas eleições de 2014 em Alagoas, Givaldo Carimbão, então no PROS e deputado federal, recebeu R$ 30 mil; Alberto Sexta-feira, já falecido, foi candidato pelo PSB e recebeu R$ 20 mil; Fernando Collor, R$ 50 mil; Wilson Júnior, então candidato a deputado estadual, R$ 20 mil; Paulão, do PT, R$ 30 mil; Amadeu Ferreira, do então PPS, R$ 20 mil; Benedito de Lira, PP, então senador, R$ 100 mil; Galba Novaes, então no PRB, R$ 30 mil; Renan Filho, MDB, R$ 200 mil; Judson Cabral, PT, R$ 20 mil; Marcos Barbosa, então PPS, R$ 20 mil; Pedro Vilela, PSDB, R$ 30 mil; Ronaldo Lessa, PDT, R$ 30 mil; Sergio Toledo, R$ 20 mil. A lista é enorme.
Vale destacar que a Braskem não só financiou campanhas eleitorais em Alagoas! (VEJA AQUI A LISTA DE DOAÇÕES EM 2014 – mas é possível ver de outros anos no DivulgacandContas). Na parte de busca do lado direito, digita "Braskem" em "doador".
O volume de doações de campanha explica as razões que levam a população à sensação de impunidade diante da situação de Maceió, aumentada por ver que a Braskem patrocina o BBB com o tema de sustentabilidade, o que é, no mínimo, um escárnio.
A influência política da Braskem, mesmo agora “desmoralizada” é enorme, mas vale destacar que nem todos os que já foram financiados eleitoralmente pela empresa se calaram diante de seus maus feitos em Maceió. A frouxidão com o caso é do sistema político-jurídico local.
Nas sociedades capitalistas, especialmente, as periféricas, a influência do dinheiro no poder político é central. O dinheiro é a mola dessa engrenagem, legitimada por seus aparelhos ideológicos, como a imprensa.
Imprensa é empresa e como tal precisa de dinheiro para se manter. Logo, sua liberdade vai até o limite de seus recursos, ou ao limite de quem tem esses recursos. Isso explica porque os sócios das Lojas Americanas são mais bem tratados do que a estudantes que fraudou uma organização de festa de formatura da USP.
Os principais acionistas da Americanas, Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles, estão entre as mais ricas do país e patrocinam dezenas de programas de televisão, jornais, rádios e sites pelo país.
É o poder do dinheiro garantindo o dinheiro do
poder.
Braskem tem muita força política mesmo e não só em Alagoas, pelo visto. Mas se o que eles fizeram fosse em São Paulo ou no Rio de Janeiro, esse anúncio no BBB seria considerado um escândalo pela mídia
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