Lula recebe sindicalistas no Planalto (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) |
Durante encontro com as centrais sindicais nesta quarta-feira (18), no Palácio do Planalto, o presidente Lula (PT) sintetizou, no mesmo discurso, temas caros aos verdadeiros democratas do país: o combate à desigualdade, mais direitos, democracia e recado a militares golpistas.
Ou seja, o aceno à civilidade democrática no Brasil.
Em sua fala, Lula reforçou a importância de inverter a lógica tributária brasileira, na qual os mais pobres pagam, proporcionalmente, mais impostos que os ricos.
“A verdade é que o pobre hoje, que ganha R$ 3 mil, proporcionalmente, paga mais que alguém que ganha R$ 100 mil. Quem ganha muito paga pouco, porque quem ganha muito recebe como dividendo para pagar pouco Imposto de Renda. Somente o trabalhador, que trabalha o mês inteiro, faz 30 horas extras para tirar o dinheiro do aluguel, chega na hora do pagamento e o Imposto de Renda comeu. Meus companheiros sabem que eu tenho uma briga com economistas do PT que é o seguinte: o pessoal fala que se a gente fizer isenção até R$ 5 mil, 60% da arrecadação desse país é das pessoas que ganham até R$ 6 mil. Ora, então vamos mudar a lógica, diminuir para o pobre e aumentar para o rico”, discursa Lula.
Mas sua fala também reforçou a importância da luta por direitos e democracia, coisas que precisam ser realizadas permanentemente no Brasil.
“Estou sentindo que vocês estão com sede de democracia, de participação. Vocês sabem que a gente não pode fazer tudo de uma única vez”, pontuou o presidente.
Já em relação à democracia, no sentido mais estrito do termo, Lula mandou um recado aos golpistas brasileiros.
“A democracia a gente não garante com arma, a democracia a gente garante com cultura, livro, debate, educação, comida, emprego. Não adianta falar em democracia para o povo se ele fala: ‘Eu quero saber quem vai me dar comida, quem vai botar um prato de comida na minha mesa de manhã, de tarde e de noite, quem vai colocar o emprego para eu poder trazer comida para minha casa trabalhando’. Porque o povo não gosta de viver de favor, o povo gosta de viver às custas de seu trabalho, do seu esforço, do seu sacrifício. É isso que o Estado brasileiro tem que ter preocupação de fazer”, afirmou Lula.
Basicamente, o tom do discurso de Lula foi o da defesa de valores caros ao povo brasileiro, valores que estão sob ameaça há muito tempo. O golpismo recente – e permanente – no Brasil não tem outro motivo senão tirar isso dos trabalhadores e dos mais pobres.
Ora, para que os mais ricos querem enfraquecer o Estado, inclusive por golpes, se não para impor total dominação econômica sobre os trabalhadores? O capitalismo já é um sistema perverso por si só, por sua lógica concentradora de riqueza, mas se os direitos e conquistas dos trabalhadores forem retirados, isso acaba por ser hipertrofiado.
Para tal, valem-se de todo o tipo de expediente, até mesmo do afloramento do fascismo e afins. Os endinheirados, enquanto classe ou segmento, não se importam com isso porque para eles tanto faz, desde que sigam enchendo os próprios bolsos e as contas bancárias.
Por isso as ofensivas contra a organização sindical, de trabalhadores rurais ou de qualquer setor ligado às camadas populares do Brasil, seja de forma direta, como mudar leis para desestruturar os sindicatos, seja na criminalização da atividade política, com ênfase aos atores à esquerda no espectro ideológico.
Sem a política só resta a barbárie. E é na barbárie que os fascistas se sobressaem.
Com 18 dias, o governo Lula já demonstrou que vem para construir um ambiente oposto a isso. É evidente que nem tudo avançará na velocidade e intensidade que gostaríamos, ou necessitamos, enquanto classe, povo. Mas aquela tração inicial para impulsionar tais mudanças, é, sim, possível ser.
Num resumo extremamente rápido, em 18 dias de governo Lula – levando-se em conta a tentativa de golpe de Estado com uma semana de posse – já temos ações que rumam ao que acabei de afirmar.
1 – aumento do piso nacional dos professores para R$ 4.420,00;
2 – retomada da campanha nacional de vacinação;
3 – ampliação do Bolsa Família em R$ 600 e logo virá os R$ 150 por filho pequeno;
4 – volta do Farmácia Popular;
5 – edital do ministério da cultura com o Banco do Brasil de R$ 150 milhões para projetos culturais;
6 – militares sendo retirados dos cargos em comissão do Governo Federal;
7 – maior controle sobre as armas de fogo dos CACs;
8 – sigilo de 100 anos de Bolsonaro sendo quebrados, inclusive os do cartão corporativo;
9 – Procuradoria-Geral da República parou de passar pano para golpista/terrorista;
10 – rearticulação internacional e início de reposicionamento do Brasil em nível internacional;
11 – retirada do Brasil do consórcio de extrema-direita que cerceava o direito das mulheres vítimas de estupros, além da revogação de portaria reacionária sobre aborto, que negava a legislação brasileira sobre o tema, e medidas que contrariavam diretrizes do SUS que têm base na ciência;
12 – Fim de agressão a jornalistas por fazerem seu trabalho;
13 – reestabelecimento da política como instrumento de convívio em sociedade e de governança.
E vem mais por aí. Com muita luta, contradições e até revezes. Mas que vem, vem. Sigamos!
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