Bolsonaro é cria de militares golpistas (Foto: aPública) |
Qualquer leitura da História brasileira, mesmo que superficial, nos mostra que o golpismo no país é algo intrínseco aos militares. Não que todo militar, das Forças Armadas ou das polícias militares, seja golpista. Mas é inegável que essa é uma marca histórica dos quartéis. Após os atos terroristas de 8 de janeiro, nesta terça-feira, 10, o primeiro militar envolvido com o ocorrido em Brasília teve sua prisão decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moares. Trata-se do ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal Coronel Fabio Augusto, que estava no comando da corporação no dia dos ataques golpistas a prédios da Praça dos Três Poderes.
Fabio Augusto foi destituído na função pelo interventor federal na segurança do DF, Ricardo Capelli, devido à conivência da PM do DF com os cerca de quatro mil terroristas que destruíram as sedes dos três poderes da República. Em seu lugar assumiu o coronel Klepter Rosa Gonçalves.
A ordem de prisão de Fabio Augusto é a primeira de militar, mesmo que da polícia, por causa dos atos terroristas de 8 de janeiro. Mas o buraco é bem mais embaixo, apesar de já haver a movimentação do Estado para se proteger e isso é uma coisa que o Estado sabe fazer muito bem. O problema é lidar com isso internamente de forma constante. Se gasta energia e tempo que poderiam ser usados em outras questões.
O governo Jair Bolsonaro (PL) foi intensamente militarizado, seja na forma, linguagem e pela vergonhosa ocupação de oito mil cargos em comissão na administração pública federal. O capitão fujão foi ungido candidato a presidente pelas cúpulas hierárquicas das Forças Armadas, cujo marco inicial desse processo, por assim dizer, ocorreu em 2014, após ida de Bolsonaro à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), no Rio de Janeiro.
Os militares mais destacados do governo Bolsonaro saíram dali e são contemporâneos dele, mas, ressalte-se, acima na hierarquia. Logo, general jamais receberia ordens de capitão. Bolsonaro é um espantalho com votos e que, sim, pode até se arvorar em alçar voos solo. Poder, pode.
Quem não se lembra do tuíte do general Villas Bôas ameaçando o STF para que a Corte mantivesse a prisão ilegal de Lula em 2018 e impedisse o atual presidente do país de concorrer naquela eleição?
Desde então, os militares vem fazendo um grande de jogo de enganação junto à opinião pública e insuflando boa parte dos brasileiros para a extrema-direita do espectro político nacional. Não é à toa que as queixas em relação ao processo eleitoral não se deram no Congresso Nacional ou na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas na porta dos quartéis do Exército em todo o país.
Os militares têm usado os tais patriotários como massa de manobra e permitindo até a presença de familiares de membros da ativa e militares da reserva nos atos golpistas. Isso ajuda a reafirmar o apoio deles à causa golpista “pela salvação nacional”.
Diferente de 1964, os militares não querem ser a linha de frente do golpe, mas surgirem “magicamente” como os garantidores da ordem pública após o circo pegar fogo.
Essa narrativa já vem sendo construída há anos e contaminado boa parte das instituições armadas do Estado brasileiro. Nas polícias militares, a contaminação ideológica também tem se dado. É evidente, é bom ressaltar, que nem todo militar – seja da PM ou das Forças Armadas – tem compreensão concreta de jogo. Alguns seguem apenas a manada ou simplesmente se sentem contemplados com as pautas reacionárias.
A formação militar no Brasil é extremamente reacionária e um bom exemplo disso ocorreu também nesta segunda-feira, 10. O 3º sargento Diego Sabino, da PM de Alagoas, foi designado para compor a Força Nacional em Brasília no reforço da segurança após os atos terroristas. Ainda no avião, na segunda-feira, 9, o militar divulgou um vídeo afirmando que “Lá não tem nenhum marginal. Vamos tentar tratar essas pessoas, esses manifestantes, da melhor forma possível”.
O caso repercutiu e o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), junto ao comandante-geral da PM local, Paulo Amorim, retirou Diego Sabino da tropa enviada a Brasília. De acordo com o portal 082 Notícias, aA Corregedoria da PM/AL vai apurar a ocorrência. Ele será ‘ouvido por Termo’ para responder a sindicância na Corregedoria-Geral da Polícia Militar”.
Muito desse jogo tem sido exposto há anos pelo oficial da reserva das Forças Armadas, Marcelo Pimentel, em suas redes sociais ao ponto de que ele tem sido alvo de inquéritos militares por causa disso, mesmo estando na reserva e no pleno direito de se manifestar politicamente.
Detalhe: Marcelo Pimentel não usa sua designação hierárquica do Exército Brasileiro.
E é aí que entra o problema José Mucio, ministro da Defesa. Muita gente tem criticado essa escolha e defendendo sua exoneração desde já, algo amplificado após os atos terroristas de 8 de janeiro.
Sinceramente, gostaria de ponderar ao menos duas questões às quais não tenho resposta objetiva:
1 – Devido ao grau de politização dos militares, uma semana de governo é tempo suficiente para mudar o quadro interno? Vamos lá, desde o anúncio dele como ministro, em 9 de dezembro. Logo, um mês “à frente do cargo”. É tempo suficiente?
2 – Trocar agora o ministro da Defesa seria uma boa sinalização aos militares?
É péssimo ter que considerar discutir esse tipo de coisa. Militares não têm que se meter na política e, na verdade, pouco se lixarem para quem é o ministro da Defesa, cabendo somente obedecer ao poder civil. Ponto.
Mas não sei se o atual ambiente político do Brasil permite isso. Ao menos, agora.
O fato é que é extremamente necessário ações efetivas, mesmo que não públicas, para conter a politização dos braços armados do Estado em todos os níveis. Senão, o Brasil viverá com esse tipo de ambiente por, ao menos, mais uma ou duas gerações.
Não, não creio que teremos outro golpe no Brasil. A forma escolhida é bem diferente da de 2016, que teve ares de legalidade. Além disso, a conjuntura atual isolaria o Brasil internacionalmente, principalmente com os Estados Unidos. O que chamamos de bolsonarismo aqui, lá eles chamam de trumpismo. Um forte ajuda a fortalecer o outro, até porque há o compartilhamento de ideólogos como o Steve Bannon.
No Brasil, o golpismo está entranhado em outras instituições de Estado, inclusive nas do sistema de Justiça, mas seu coração e sua mente usam farda, sem dúvida alguma. E sem mente e sem coração, nenhum corpo sobrevive.
Um comentário:
Realmente esse problema dos militares me preocupa
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