General Tomás Paiva, novo comandante do Exército (Foto: Reprodução) |
Na tarde de sábado, 21 de janeiro, o presidente Lula (PT) trocou o comando do Exército, demitindo o general Júlio César de Arruda e pondo em seu lugar o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, até então no Comando Militar do Sudeste. Na sexta-feira, 20, ocorreu no Palácio do Planalto uma reunião entre Lula e os chefes das Forças Armadas com a presença do ministro da Defesa José Mucio, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), ministros e o presidente da Fiesp, Josué Gomes. Dois dias antes, general Tomás fez um duro discurso legalista em defesa das urnas e da democracia durante cerimônia para lembrar os militares mortos em missão no Haiti, em 2010.
Está explicada a fala do agora comandante do Exército.
Em meu último vídeo no Youtube, comentei sobre o discurso do general Tomás e como ele poderia ser a causa da fala de José Mucio após a reunião no Planalto (VEJA AQUI). Me ative somente a isso e avaliei que as ações moderadoras adotadas até agora com o golpismo na caserna poderiam – estariam – começando a surtir efeito. O ministro da Defesa afirmou que a desconfiança com os militares era “página virada”. Talvez a troca de comando do Exército seja a tal página que ele se referiu. Talvez.
Por outras vezes, pontuei como os militares têm feito jogo de contrainformação no cenário político nacional, porém, não no último vídeo. E por que toco nisso agora?
O general Tomás é da mesma turma da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) do antecessor e do alto comando do Exército. Dito isso, cabia a ele a chefia da AMAN em 2014, quando o então deputado do “baixo clero” da Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro, foi ungido e recebido por cadetes como o candidato militar à Presidência da República “daqui a quatro anos”. O tal evento ocorreu poucos dias após ao pleito eleitoral de 2014, vencido por Dilma Rousseff (PT).
Desde então, os militares têm atuado nos bastidores da política nacional, num jogo de empurra e contrainformação para tumultuar o coreto e se tornarem relevantes politicamente como, principalmente, “agentes de paz e ordem” (LEIA AQUI).
O último golpe no Brasil foi dado em 2016 e não interessa aos militares executar outro, especialmente nos moldes de 1964. Não há apoio internacional nem interno para isso. Mas há as condições para manter o país em constante tensionamento e, em boa medida, com os três poderes da República conflitando entre si.
A fala do general Tomás Paiva em 18 de janeiro, em seu conteúdo, foi certeira e dentro atual conjuntura nacional, principalmente após os atos terroristas de 8 de janeiro, com as frequentes revelações de participação direta de militares naquilo tudo, seja na depredação das sedes dos poderes, seja na conivência com os acampamentos dos patriotários. Mas foi por acreditar no que disse ou por pragmatismo, a si ou para o Exército? Ou cúpula?
Nesse jogo todo, os patriotários são os memes ambulantes que temos visto há, pelo menos, quatro anos. Quem está por trás dessa engrenagem, fomentando tudo isso ou os usando como cesta de votos – estes em alguma medida –, não.
Após a derrota eleitoral, Jair Bolsonaro virou rolete chupado, algo a ser descartado, seja pelo mundo da política civil – devido ao grande volume de desvios –, seja pelos militares que usam as Forças Armadas para fazer política: o partido militar.
O motivo da demissão do general Júlio César de Arruda, segundo a imprensa no momento em que escrevo esse texto, teria sido a recusa em demitir o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, conhecido como "coronel Cid". De acordo com uma reportagem publicada no portal Metrópoles, Cid seria operador de caixa 2 no Planalto.
Outro fator, a total falta de ação para impedir a quebradeira no Palácio do Planalto. Lula chegou a afirmar estar convencido desse tipo de coisa em entrevista na Globonews.
Contudo, o mais importante, nesse momento, que o motivo da demissão do general Júlio César de Arruda, é o motivo da escolha pelo general Tomás Paiva. Pela burocracia, ele não seria o sucessor natural pela antiguidade, mas o general Valério Stumpf, mandado para a reserva por causa na nomeção do general Tomás. Esse é um ponto.
O outro é o discurso feito em 18 de janeiro. Além da defesa das urnas e da democracia, o general Tomás também criticou as mensagens que circulam nos aplicativos de mensagem.
Jair Bolsonaro é algo que está sendo descartado, por civis da política e pelos militares políticos. Pode ser devido a um efeito colateral, uma vez que a passagem do capitão fujão atingiu, em alguma medida, a imagem das Forças Armadas, logo, é preciso remover a sujeira. Seja porque o objetivo político de quem engendrou isso tudo foi atingido em boa medida.
A questão é até que ponto o general Tomás Paiva concorda com isso tudo. Saber da engrenagem, ele sabe. É evidente. Mas pode ser que ele tenha resistências reais a esse jogo ou ao menos ao ponto que isso levou o Brasil.
Em resumo, seu discurso de 18 de janeiro pode ter tido ares de sinceridade real, nem que seja por defesa das instituições militares, para que não tenham, ainda mais, sua imagem misturada ao que se chama de bolsonarismo. (Aqui me refiro às loucuras, aos memes vivos que temos visto nos últimos anos).
Não é possível, para mim, cravar quais desdobramentos essa troca de comando no Exército vai gerar. Ao menos, por ora.
Todo modo, a sinalização mais geral é de que os militares golpistas – ou insubordinados, como queira – terão menos tolerância. Mas sempre é possível, e a História está aí para comprovar, o uso de bois de piranha para pagar o pato.
Sem euforia ou paranoia, precisamos aguardar os acontecimentos. E de forma muito, mas muito, atenta.
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