quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Os tais 40 bebês e o fetiche pela velocidade e por criminalizar a Palestina

Nicole Zedeck, responsável pela mentira dos 40 bebês decapitados (Reprodução)

Na terça-feira, 10 de outubro, correu como rastilho de pólvora a informação de que o Hamas teria decapitado 40 bebês israelenses. O perverso fato logo tomou conta das manchetes dos principais sites da mídia grande e os perfis de pessoas da extrema-direita brasileira. A viralização dessa mentira e o estrago feito sobre o entendimento do histórico conflito entre Israel e palestinos aumento ainda mais.

A “notícia” foi dada pela repórter Nicole Zedeck, do canal israelense i24News. A comoção foi geral, servindo como instrumento da desumanização constante dos palestinos. 

Mas na mesma terça-feira, o porta-voz do Exército de Israel disse à agência de notícias turca Anadolu, que não tem informações sobre o esse fato. Seria impossível o exército israelense não ter conhecimento de uma coisa assim se isso tivesse mesmo ocorrido. E isso até foi noticiado no Brasil, mas sem o devido destaque da mídia grande. 


Logo após a revelação da mentira, Nicole Zedeck foi ao Twitter – agora X – remendar a história. Ela disse que soldados lhe disseram “que acreditam que 40 bebês/crianças foram mortas”. Acreditam. Acham. Não confirmaram nada.


Tradução da postagem de Nicole Zedeck


Pelos fetiches da velocidade e da criminalização dos palestinos, a repórter soltou uma informação desse nível sem confirmar, com base no achismo de soldados que deveriam estar confusos. Guerras, conflitos armados, deixam as pessoas confusas mesmo. Ou pior – e bastante crível –, soldados que mentiram mesmo.

Os tais fetiches não são privilégio da repórter israelense. No Brasil, os veículos da imprensa grande reproduziram a informação acriticamente – ou seria criminosamente? –, seja para puxar o algorítimo da internet para si, seja para reforçar a narrativa ocidental contra palestinos e árabes em geral.

Há uma máxima que diz que numa guerra, a primeira vítima é a verdade. Mas no caso do massacre de Israel contra os palestinos, a verdade morreu há muito tempo.

A internet é um instrumento importante para a pluralidade de ideias, mas também um grande amplificador de falsas narrativas e teorias esdrúxulas. Como muito bem afirmou Umberto Eco: a internet deu voz aos imbecis.

E os manipuladores ganharam outro instrumento para manter a horda imbecializada.

EM TEMPO

É possível defender a Palestina e seu direito a ter um Estado, um pedaço de chão para que os palestinos chamem de seu, sem apoiar o ato do Hamas, que não deslegitima a luta palestina. O povo palestino é, atualmente, o povo mais oprimido do mundo. Nunca devemos equivaler a reação do oprimido com a agressão do opressor.

Também é possível defender que os judeus tenham seu pedaço de chão. O que não dá é justificar o que eles fazem há décadas: massacre e roubo do chão dos outros.

Um comentário:

Sônia Alves disse...

A mídia e tão criminosa quanto Israel