Este ano de 2024 é marcado pelas eleições municipais. Mais de 5 mil cidades brasileiras elegerão seus prefeitos e vereadores, numa corrida que já começou. Ou melhor, nunca parou. Explico: ganho ou perda de força política e/ou eleitoral é fruto de processo cumulativo, influenciado pelas ações diretas dos atores políticos para tentar moldar a conjuntura em seu favor.
Mas o que temos visto por aí, especialmente nas disputas das grandes cidades, são análises pelo viés de confirmação e com base de que “o povo acolherá meu discurso, minha posição política, minhas bandeiras”. Doce ilusão dado aos montes para mobilizar incautos ou, pior, para se automobilizar.
Candidaturas vitoriosas – especialmente, as majoritárias – são aquelas que se encaixam na conjuntura no momento eleitoral, dando aos eleitores médios aquilo que eles desejam como governantes. No caso deste ano, prefeitos.
Nas cidades pequenas, aquelas em que prefeitos e vereadores muitas vezes deixam até mesmo a porta de suas casas abertas para as pessoas ali transitarem, o fator da pessoalidade tem um peso bastante considerado. Definidor, até, eu diria.
Mas nas cidades grandes, onde mal se vê os políticos no meio da rua, numa padaria, bar, restaurante, onde prefeitos são, para a maioria da população, personagens de jornais, revistas, sites e televisão, vale a avaliação de governo. Se a gestão é boa, o eleitor médio vota para que ela continue. Se é ruim, para trocar. Pragmatismo é a palavra de ordem.
Estes eleitores não acompanham os pormenores da política, a posição dos partidos e personagens da política. O que eles sabem é o que veem no dia a dia, se sua vida está boa ou não; se melhorou nos últimos anos ou não.
Evidente que há outros elementos que fazem os eleitores terem as posições que possuem. A depender do cotidiano desse eleitor, entram na conta questões morais e/ou filosóficas. O grau de subjetividade na avaliação de governo está associada ao tempo para reflexão dessas questões. Se uma pessoa acorda às 3h30 da madrugada, faz seu café da manhã e sua marmita, sai de casa às 4h45 em direção ao ponto de ônibus – ou estação de trem ou metrô – passa duas horas dentro do transporte, trabalha por 8 horas, faz o longo caminho de volta para casa. Que horas esse eleitor vai analisar os pormenores da política?
Logo, para haver uma troca de governo é necessário que haja um ambiente de mudança no eleitorado. Havendo, o escolhido será aquele que capitalizar esse sentimento.
Dito isso, e citando o caso de Maceió por ser a cidade em que resido, tenho visto muitas análises de que algo acontecerá e mudará o cenário eleitoral até outubro, ou mesmo a aposta na polarização contra o bolsonarismo. Os “elementos de esperança” vão desde traições no grupo do prefeito a algum fato imponderavelmente grande para dar um giro na percepção da população acerca da gestão do João Henrique Caldas (PL).
João Henrique Caldas passou três anos passeando na Prefeitura de Maceió, sem oposição para apontar suas falhas, colocando a lente de aumento nelas que as oposições fazem por dever de ofício. Isso é, e sempre foi, da política. O que não vale é inventar fatos. Mas destacar as falhas e enaltecê-las é do jogo.
Somente no final do atual mandato foi que se tentou dar corpo à oposição ao atual prefeito de Maceió, mas aí a “Inês é morta”.
No último ano, ocorreram dois fatos com potencial para abalar a aceitação da gestão municipal: a compra do Hospital do Coração, feita com recursos oriundos da Braskem e sob acusações de superfaturamento; e o tal contrato de indenização firmado por João Henrique Caldas e a mineradora.
O contrato ganhou notoriedade – inclusive, nacional – após a notícia do colapso da tal mina 18. O acordo firmado deu até quitação de danos futuros provocados pela exploração criminosa de sal-gema. Por um breve período de tempo, no fim de 2023, o prefeito de Maceió ficou no corner, pela primeira e única vez em seu mandato.
O tema abalou sua popularidade, fazendo-a baixar cerca de 13 pontos percentuais, segundo pesquisas do Ibrape (LEIA AQUI). Mas essa discussão não teve fôlego. A oposição não soube fazer essa “sopa” render.
E essa mesma oposição, neste momento, vem com a tática de lançar muitos nomes para tentar minar o eleitorado que tende a votar pela reeleição. A chance de isso dar errado é enorme, assim como apostar no combate ao bolsonarismo.
Bolsonarista o atual prefeito de Maceió é. Mas dá para colar essa imagem nele, ainda mais agora a poucos meses do pleito?
João Henrique Caldas anunciou apoio a Bolsonaro do primeiro para o segundo turno da eleição presidencial de 2022. Ele estava no PSB, do vice de Lula, Geraldo Alckmin. A notícia fez parecer que ele “mudou de lado”, mas na verdade só se revelou.
E esse movimento não deu um mísero voto a Bolsonaro em Maceió. O prefeito o fez para se aproximar da maior parcela de eleitores da capital alagoana, uma vez que o ex-presidente venceu o primeiro turno na cidade.
O prefeito foi até os eleitores e não estes de votaram em que ele apoia!
Mas depois disso, João Henrique Caldas não fez uma bolsonarice raiz. Não agrediu mulheres, não agrediu os negros, não agrediu a esquerda e nem foi receber Bolsonaro quando este veio a Alagoas para as festas de fim de ano. Nada disso. Aliás, durante o auge da pandemia de covid-19, não teve postura negacionista.
É difícil colar a imagem de bolsonarista junto ao eleitor médio. E muitos eleitores de Lula votarão nele, seja por isso, seja por rejeição às alternativas postas.
Sobre rachas em seu grupo, o nome mais forte dele é o deputado federal Arthur Lira (PP), presidente da Câmara dos Deputados, e que tenta emplacar o vice na chapa, já que este herdará a Prefeitura em 2026. João Henrique Caldas será candidato daqui a dois anos. Neste momento, a governador.
Premissas falsas, dado ao poder político de Arthur Lira, fazem parecer que o prefeito é que depende eleitoralmente do deputado. Mas é o oposto. Na eleição em Maceió, é o todo poderoso de Brasília que depende do prefeito-influencer.
Apesar de parecer, não afirmo que a conjuntura restará imutável até as eleições. Até porque a política é como a nuvem, bateu um vento e ela mudou de lugar.
Em minha avaliação, a popularidade do prefeito só pode ser abalada se as falhas de sua gestão que atingem ao menos a maioria dos maceioenses for explorada, colocada em caixas de ressonância para que todos escutem e vejam. Mas isso tem de ser feito de forma objetiva, concreta.
O melhor exemplo que tivemos foi a história do contrato com a Braskem e temos aí uma sopa que precisa render mais, mas se ficar aguada, não servirá de muita coisa.
E para a Câmara Municipal?
Eleições parlamentares são nichadas. Seja por região ou segmento da sociedade. Nesta disputa, cabe apostar no combate ao bolsonarismo. Afinal, Bolsonaro venceu em Maceió, mas teve muito voto contrário também e estes eleitores podem optar por uma Câmara Municipal mais progressista.
*Esta linha de raciocínio vale para outras cidades, especialmente as cidades grandes e capitais.
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Excelente análise. Parabéns
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