quarta-feira, 24 de abril de 2024

O hospital comprado por JHC e a difícil arte de dourar a pílula

JHC e Rodrigo Cunha. Ao fundo, antigo Hospital do Coração (Fotos: Reprodução)

Desde que anunciou a compra do antigo Hospital do Coração por R$ 266 milhões, o atual prefeito de Maceió João Henrique Caldas (PL) tem sido alvo – e com razão – de questionamento quanto ao negócio, essencialmente pelo montante pago, cujos recursos são oriundos de acordo de indenização entre o Município de Maceió e a Braskem, responsável pelo afundamento de solo e isolamento de cerca de 20% da área urbana da capital alagoana.

Durante depoimento à CPI da Braskem no Senado, o procurador-geral do Município de Maceió, João Luis Lobo Silva, relatou os valores recebidos da mineradora pela Prefeitura e pontuou o gasto com a aquisição da unidade hospitalar e ouviu, de pronto, do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, sobre como é um absurdo do valor pago pelo hospital.


“Está de brincadeira, comprar um hospital por R$ 260 milhões, com cento e poucos leitos. Quero dizer que atenção básica é a responsabilidade do município. [Atendimento de] média e alta complexidade não é função da prefeitura e comprar um hospital de alta complexidade tem custo anual altíssimo. Além disso, um hospital não custa R$ 260 milhões em nenhum lugar, muito menos em Maceió. Em quatro anos, eu construí o maior hospital do Norte-Nordeste, e sei valores de cabeça. Aliás, nós vamos fazer uma visita e vamos conhecer porque é muito dinheiro para um hospital de pouco mais de cem leitos”, disse Omar Aziz. [LEIA MAIS AQUI]

O parlamentar amazonense descascou o absurdo que foi a compra do Hospital do Coração que, além do valor elevado pago com recursos públicos, foi comprado com áreas ainda em conclusão e o setor de atendimento cardíaco foi retirado da unidade.

JHC comprou o hospital às vésperas das eleições municipais de 2024 – quando busca sua reeleição – porque a saúde é um dos gargalos principais de sua gestão à frente do Municípios de Maceió e o campo opositor mais forte tem um bom bocado de hospitais construídos em Alagoas para se contrapor, inclusive na capital alagoana.

Mas, em vez de construir um hospital e dar à cidade de Maceió mais uma unidade hospitalar pública, JHC comprou um incompleto e com muitas evidências de sobrepreço. Além de deixar a cidade com o mesmo número de hospitais, o prefeito instagramável não gerou os empregos que a obra proporcionaria, não realizou concursos públicos para a contratação dos profissionais ou licitação para os equipamentos.

Por isso, ele e seus aliados têm sempre buscado dar aquela boa e velha dourada na pílula sobre esse tema.

Foi o caso do senador Rodrigo Cunha (Podemos), um dos cotados para ser candidato de vice-prefeito de JHC, que afirmou na CPI da Braskem como rebate à fala de Omar Aziz que o hospital comprado por JHC era “o melhor da cidade” e, para variar, pôs a culpa da negociação no Governo do Estado.

Ora, então é permitido usar recursos públicos a bel prazer desde que a aquisição seja a “melhor da cidade”?

Por que a Prefeitura de Maceió, cujo prefeito se vende como o amigão das melhores figuras em cada área de atuação criada pela humanidade não construiu um hospital melhor que “melhor da cidade”?

Para esta segunda, creio saber a resposta: porque não daria tempo de entregá-lo até a eleição de 2024 e mesmo sendo reeleito, a chance de ficar pronto depois do afastamento em 2026 para concorrer ao pleito daquele ano é muito grande. Logo, quem entregaria seria o vice eleito em 2024.

Evidente, caso JHC seja reeleito em outubro deste ano.

Além disso, alguns fatos ocorridos na CPI da Braskem mostram que a ausência do senador Renan Calheiros (MDB) – autor do pedido de criação desta CPI – não gerou céu de brigadeiro para o grupo “jotista”.

O coordenador da Defesa Civil municipal se contradisse na CPI; o defensor público Ricardo Melro também apontou questões não muito digestas aos jotistas; e agora, foi a vez do procurador-geral do Município de Maceió.

Resultado: a CPI deverá vir a Maceió checar o hospital comprado a preço de ouro.

E não será surpresa se detectarem um grande “banho de loja” no hospital e deixá-lo “trabalhado no palmolive” para receber os senadores da CPI da Braskem.

A ver.

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