segunda-feira, 22 de abril de 2024

Pesquisas sobre autodeclaração ideológica são só espumas

O que as pessoas entendem ser de direita ou de esquerda?


O IPEC divulgou pesquisa sobre autodeclaração ideológica e 11% disseram ser totalmente de esquerda; 24% totalmente de direita; e 20% de centro.

Quantas pessoas sabem ao certo o que defendem esses espectros políticos?


Nem todo mundo de esquerda defende pautas como a legalização do uso de drogas; e nem todo mundo de direita defende a liberação de armas de fogo?

Nem todo mundo de esquerda defende estatização de “tudo”; nem todo mundo de direita defende privatização de “tudo”.

Uma coisa são militantes, parlamentares e intelectuais fazendo debates sobre propostas sob estes guarda-chuvas ideológicos. Outra coisa é a vida real.

Em março, o Atlas Intel divulgou pesquisa em que o PT é o partido preferido entre aqueles que têm preferência partidária com 34,6% das citações; 25,1% disseram ser o PL. o mesmo percentual para nenhum partido. [LEIA AQUI]

Ainda em março de 2024, o Datafolha divulgou pesquisa onde 41% dos entrevistados se disseram petistas e 31% bolsonaristas. No quadro político atual, esses números são mais críveis à maioria da população. Mas também isso não quer dizer apoio a todas as pautas defendidas pelos líderes esses campos políticos.




Não é assim que funciona, ainda mais numa sociedade de massas como é a brasileira.

Esse tipo de pesquisa, que vai no abstrato – sim, espectro ideológico é muito abstrato para a maioria das pessoas – só serve para especulação e rodas de pseudo debate em canais de televisão.

O PT há muito tempo aparece como o partido preferido da população, mas não consegue eleger maioria nos parlamentos.

Quem polarizou a eleição em 2022 foi o PL que elegeu a maior bancada em termos de partido, mas o percentual ficou bem abaixo da votação para presidente.

Para o público médio, que não acompanha a politica, ser de esquerda ou de direita tem muito mais a ver com o tema político ao qual se está sendo inundado no momento da entrevista.

E se for pautas de costumes, a tendência é responder como de direita.

Na mesma Datafolha de março, 67% disseram que porte de pequenas quantidades de maconha não deveria deixar de ser crime. Ou seja, temos aí uma parte de eleitores de Lula em 2022.

Para essa média,76% dos bolsonaristas são contra a descriminalização; petistas, 59%; neutros, 67%. 

Ou seja, nem todo bolsonarista é contra a descriminalização da maconha e nem todo petista é a favor.

Se esse tema inunda o eleitor, e a depender da forma, o que ele responderá sobre ser de esquerda ou de direita?

O fato é que temos entre 25% e 30% de eleitores mais à esquerda e o mesmo tanto mais à direita. E o miolo é variável conforme a conjuntura.

Basta olharmos a votação do Haddad em 2018. Seus votos no primeiro turno – 29,28% - apontam isso. Haddad foi candidato com a campanha já em andamento.

A única efetividade que tem numa pesquisa que pergunta a eleitores qual o seu espectro ideológico é a de gerar discussões sem materialidade concreta, pois se baseia somente em ideias abstratas do que é ser de esquerda ou de direita, no Brasil e em 2024. 

Muita espuma, somente.

Um comentário:

Flávia Torres disse...

Excelente reflexão. Parabéns