segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

JHC: o último PIX da Braskem e a busca por uma nova botija

JHC e Lula durante festa do grupo Prerrogativas (Foto: Reprodução)

Em dezembro deste ano de 2024 cai na conta da Prefeitura de Maceió a última parcela de R$ 250 milhões da Braskem em virtude do acordo de indenização feito entre a mineradora e o Executivo Municipal da capital alagoana. No total, Maceió recebeu R$ 1,7 bilhão, que foram gastos de forma pouco publicizada. E aqui não me refiro aos limites legais, mas ao fato de que pouquíssima gente de Maceió sabe como esse montante foi usado.

Sabe-se da compra do Hospital do Coração, transformado em Hospital da Cidade, cujo negócio é questionado desde o início sob suspeita de superfaturamento. Além de boa parte dos serviços não funcionarem como anunciado.

Mas a grande questão que envolve o último PIX da Braskem é seu desdobramento político. O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), conhecido como JHC, durante seu primeiro mandato apostou em grandes festas, caras para chuchu, em objetos “instagramáveis”, e em reformas de praças, tendo algumas delas “luxos” para hipnotizar a população, como uma pista de gelo na Praça Centenário, no bairro do Farol. 


Para manter o padrão, de agora em diante, JHC vai precisar de outra botija, uma vez que a da mineradora, que comprometeu cerca de 20% do perímetro urbano da capital de Alagoas, secou. 

Unido o útil ao agradável, JHC foi ao encontro de Lula (PT). Numa festa do grupo de advogados “Prerrogativa” para homenagear a primeira-dama Janja da Silva, o fez de forma direta, mas já vinha, através de Arthur Lira (PP), todo poderoso da Câmara dos Deputados, fazendo acenos ao petista.

No noticiário nacional, mais precisamente na coluna de Malu Gaspar, em O Globo, saiu a informação de que JHC deixaria o PL para garantir a nomeação de sua tia, Marluce Caldas, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e para ter acesso a emendas federais para Maceió. Enquanto a botija da Braskem estava cheia, JHC fazia certo desdém de recursos federais. Tanto que não entregou plano de mobilidade urbana ao Governo Federal, fazendo Maceió deixar de receber recursos para esta área.

Malu Gaspar também noticiou que o destino de JHC seria o PSD.

Tanto o PSD local quanto o próprio JHC negaram a informação. O partido de que o prefeito de Maceió ingressaria em suas fileiras; o prefeito que deixaria o PL. Contudo, durante entrevista coletiva no dia de sua diplomação eleitoral, o prefeito de Maceió deixou um recado nas entrelinhas.

“Todos os momentos, todos os encontros, é como eu falei, eu sou defensor da institucionalização das relações e tudo que foi importante para Maceió, nós vamos estar juntos, nós vamos estar unidos. Então, eu acho que a gente precisa unir mais esforços, como eu falei aqui no discurso do Parque da Lagoa. Eu acho que é mais estender as mãos do que apontar os dedos. Então, é com esse sentimento que a gente vai seguir sempre”, disse. “Essa conjuntura nacional, eu sou muito de defender a institucionalidade. Então, sempre fui um parlamentar, sim, sou um prefeito dessa forma. Então, não tenho dificuldade nenhuma de diálogo. Eu acho que isso preserva a nossa democracia, como ela tem que ser, longe de extremismos e de radicalismo. Então, eu acho que essa postura equilibrada e firme é o que a gente precisa para levar o Brasil para o caminho”, completou JHC.

O tom da fala do prefeito de Maceió vai na contramão das circunstâncias às quais o PL está envolvido neste momento. A principal liderança eleitoral do partido, Jair Bolsonaro, está na iminência de ser preso por tentativa de golpe de Estado. E tudo isso afetará o PL em cheio, inclusive podendo fazer o registro do partido ir para as cucuias, se restar provada participação da legenda na trama golpista.

Como para bom entendedor, meia palavra basta, e levando em conta o histórico partidário do prefeito da capital alagoana, a saída dele do PL parece ser questão de tempo.

JHC tem 37 anos de idade e já está em seu quarto partido político: PTN, entre 2009 e 2013; Solidariedade entre 2013 e 2015; PSB entre 2015 e 2022; e PL. Como se vê, lealdade partidária não é o forte do chefe do Executivo de Maceió. 

Minha aposta é que JHC deixa o PL quando o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) começar a apontar para a condenação do capitão do Exército. Ele teria aí a desculpa perfeita: “sem extremismos”.

Se o PSD será o destino, a ver. Há outras alternativas que contemplam tanto aos objetivos dele, quanto de Arthur Lira em Brasília. Para Lira, tirar o principal nome eleitoral para o Poder Executivo da oposição nacional em Alagoas e trazê-lo para uma legenda da base governista – mesmo sendo a base de Lula o que é – seria um forte argumento junto ao presidente da República para reforçar que Lula não tem somente Renan Calheiros (MDB) para contar por essas terras.

Então por que JHC não sai logo do PL? Por que a torna dessa conversa não está fechada e há o problema de sua base na Câmara Municipal de Maceió em torno da sucessão da mesa diretora daquela Casa. Por mais que na prática, na relação entre ele e os vereadores, essa troca partidária pouco – ou nada – afete, mais um ruído seria extremamente desnecessário. 

O tempo vai nos dizer o que ocorrerá e tudo pode acontecer, inclusive nada.

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