| Imagem gerada por IA |
Entre o final de 2024 e o final de 2025, o quadro eleitoral para o Governo de Alagoas passou por uma mudança interessante. No fim do ano passado, todas as pesquisas de intenção de voto para governador mostravam Renan Filho (MDB) – ex-governador, senador eleito e ministro dos Transportes – em posição muito confortável, liderando com margem razoável sobre o prefeito de Maceió João Henrique Caldas, ainda no PL e conhecido como JHC. Um ano depois, o cenário se estreitou drasticamente e, em boa parte das pesquisas, o prefeito de Maceió ultrapassou numericamente o emedebista.
Tomando apenas pesquisas realizadas em todo o estado, entre o final de novembro de o mês de dezembro, o dado é objetivo. No final de 2024, Renan Filho aparecia entre 46% a 48% das intenções de voto, enquanto JHC orbitava entre 36% e 38%. Já no final de 2025, os números, na média, apontam JHC na casa dos 43% e 44% e Renan Filho entre 41% e 42%.
Na prática, isso não configura uma virada consolidada. Ao contrário, mostra somente que disputa se acirrou e com o prefeito de Maceió em ascensão. Objetivamente, o que temos agora ao fim do ano pré-eleitoral é um empate e uma disputa aberta.
O crescimento de JHC tem algumas explicações. Ele ocupou espaço político local num período em que Renan Filho esteve majoritariamente em Brasília, exercendo função ministerial. Enquanto isso, JHC esteve diariamente presente no noticiário local, explorando sua condição de prefeito da capital, que possui cerca de 1/3 da população alagoana, muitos deles eleitores no interior.
Isso não significa ausência de governo estadual. Paulo Dantas manteve presença, agenda e aprovação. O ponto central é que o governo existiu, mas o projeto sucessório ficou em suspenso. Não houve, ao longo de 2024 e boa parte de 2025, uma liderança estadual claramente colocada em campanha permanente. JHC avançou nesse vácuo.
Também existe um fator menos mensurável, que é a saturação simbólica do grupo político que comandam o poder em Alagoas há muito tempo. Não se trata de rejeição massiva ao grupo dos Calheiros, mas de um cansaço difuso, mais observado em grandes centros urbanos. E até pela vitória acachapante em 2024, JHC passa a figurar como alternativa, mesmo se não se quisesse.
Essa lógica ajuda a entender por que JHC evita colar de vez em Arthur Lira, que também sofre algum grau de saturação política. Assim como os Calheiros, Arthur Lira concentra poder e, com isso, acumula desgaste. Uma associação total traria musculatura institucional, mas também poderia trazer rejeição. JHC prefere manter distância segura, ainda que preserve pontes políticas.
Nesse tabuleiro, tem o tal acordo político que viabilizou a ida de Marluce Caldas, tia de JHC, para o Superior Tribunal de Justiça. Esse arranjo envolveu forças nacionais e estaduais e sinaliza – segundo o que foi noticiado – que, JHC não sairia candidato, apoiaria Renan Filho ao Governo do Estado, e Renan Calheiros e Arthur Lira ao Senado. E mudaria de partido, saindo do PL para algum da base de Lula (PT).
Até agora, tendo o acordo como base, só a ida de Marluce Caldas ao STJ foi cumprido.
Mas o ponto central aqui é que a ultrapassagem momentânea de JHC nas pesquisas não é sinônimo de vitória. Ao contrário. No limite, é ele quem tem mais a perder. Se derrotado em 2026, JHC ficará sem mandato por, pelo menos, dois anos. Já Renan Filho, se derrotado, retorna a Brasília, com espaço político garantido e capital político preservado.
Além disso, o cenário pode mudar novamente. A tendência já perceptível é de maior presença de Renan Filho em Alagoas a partir de agora. Presença física, política e simbólica. Em disputas estaduais, isso pesa. A entrada efetiva de Renan Filho no território tende a reduzir a vantagem comunicacional de JHC e pode recolocá-lo isoladamente à frente nas pesquisas.
O que se tem hoje, portanto, não é um desfecho, mas uma fotografia provisória. Um empate real, com leve oscilação para cá ou para lá, condicionado a presença, narrativa e alianças. A eleição de 2026 em Alagoas está longe de estar resolvida. Até por que ainda tem as chapas ao Senado, deputado federal, estadual… Ih, a conversa vai longe...
Nenhum comentário:
Postar um comentário