domingo, 16 de dezembro de 2012

Povo confirma Raul Seixas, segundo Datafolha

O Instituto Datafolha divulgou pesquisa com o índice de confiabilidade na imprensa. Segundo a pesquisa, 28% das pessoas não confiam nela, enquanto 22% “confiam muito”. Na pesquisa anterior os números eram 18% e 31%, respectivamente. O número dos que “confiam um pouco” permaneceu estável, variou de 51% para 50%.

Para alguns, o motivo da queda na confiança na imprensa se deve à sua partidarização. E partidarização à direita e sempre, sempre contra Lula, Dilma, o PT e a esquerda.

Mas não é só isso. Se a imprensa fosse partidarizada, mas ao menos praticasse jornalismo. Fizesse a apuração como se deve; não usasse de métodos criminosos como arapongagem para conseguir provas; não inventasse provas; se não exercesse o moralismo seletivo que lhe é tão peculiar hoje e essencialmente, os jornais – com raríssimas exceções – são iguais. Talvez a confiança nela se mantivesse alta.

Os jornais são muito iguais. As manchetes são as mesmas; os lides (primeiros parágrafos das notícias) são cópias. Até parece que é a mesma pessoa que escreve e na hora de mandar para a publicação, colocam o nome de algum repórter. Não se tem nem imaginação para publicar.

Em evento realizado no último dia 15/12 em Maceió, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Celso Schröder, defendeu a necessidade da defesa do jornalismo e também afirmou estarmos vivendo uma “crise do bom jornalismo”. Segundo ele, está se trocando informação por opinião.


Quem mais deforma o jornalismo no Brasil é a autoproclamada “grande imprensa”. É ela que passa opinião como informação. É ela que desvaloriza o jornalista quando manda recém-formados atuarem como arapongas. É ela que nega tudo o que ditam os preceitos do bom jornalismo quando vocifera contra setores da sociedade, como trabalhadores rurais sem terra, contra partidos políticos ou exige condenações sem provas. E quando estimula o fim da harmonia entre os poderes da República.

Não há possibilidade de bom jornalismo na concentração da informação. Num país do tamanho do Brasil, cinco ou seis famílias determinam qual informação e como ela vai chegar à população.

Aparentemente temos vários jornais e revistas, e haveria aí, uma democratização da informação. Ledo engano. Temos muito coisa de nada. Os jornais regionais reproduzem os realeses das agências de notícias nacionais, todas dos chamados “jornalões”.

Duvida? Se você não for do eixo RJ/SP, abra seu jornal na editoria “nacional”. Verá Folha Press, Agência Estado e Agência O Globo, predominantemente.

Acontece que as pessoas não são mais bobas. Agora, com a internet a informação circula com mais agilidade e outras leituras dos fatos estão à disposição.

Sinceramente, o número da insatisfação com imprensa me surpreendeu. Achava que o número do que não confiam fosse maior, mas ele está aumentando. De repente até está. O instituto que realizou a pesquisa é da Folha de São Paulo. Não causaria estranheza que isso fosse uma realidade.

Ruim para nós. Se não podemos confiar nas informações que circulam no país, como poderemos pensar as resoluções de nossos problemas?

As pessoas estão confirmando Raul Seixas. “Não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz”.


*Onde se lê jornais, leia-se também revistas, sites e Veja (recuso-me a chamar Veja de revista. Ela é uma coisa feita em papel couché)

Um comentário:

Milu Duarte disse...

Há anos, muitos anos mesmo, venho notando esta tendência do anti-jornalismo em alguns órgãos da imprensa. Tudo começou com a famigerada revista Veja. Na década de 90 eu deixei de assiná-la pois, além de conter muita, mas muita mesmo, propaganda, distorcia muito as notícias. Plantava golpes. Fez isto com o Ibsen Pinheiro. Na época deixei de assina-la e comecei a campanha na família contra a revista. Ganhei poucos adeptos. Hoje a "doença" da veja virou epidemia e o jornalismo brasileiro virou um jornalismo de mentiras, desinformação e golpes. Já não assino mais nada, prefiro ler blogs "sujos" e portais da internet. Havia, na mesma década de 90, uma revista excelente intitulada "Cadernos do Terceiro Mundo", que faliu por falta de conscientização do povo, que se acostumou a este jornalismo podre.
Trazer a tona o Raulzito foi boa lembrança sua. Este trecho de sua música serve de lema para o jornalismo atual. Parabéns, Cadu, pela lembrança:
“Não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz”.