quinta-feira, 9 de maio de 2013

As velas de Teotônio





O governo de Alagoas lançou uma campanha publicitária ressaltando o sucesso de suas ações no combate à violência. Nela aparecem crianças brancas com velas e o seguinte jargão: Alagoas está acendendo uma luz em comemoração à vida. Entre os dias sete e oito de maio, em um período de doze horas, foram cometidos nove assassinatos somente em Maceió e região metropolitana. Isso mesmo, em doze horas, apenas na região metropolitana aconteceram nove assassinatos.


Quantas velas as famílias das vítimas devem acender para comemorar a vida, segundo o governo tucano em Alagoas? E o restante da população, quantas?

O governador Teotônio Vilela (PSDB) prova a cada dia o erro que é o seu governo. Na questão da segurança é fácil ver helicópteros sobrevoando o céu da capital Maceió. Se passa pela área nobre se vê apenas a presença de um policial na lateral da aeronave, se passa na periferia uma metralhadora completa a cena que mais parece saída dos filmes Tropa de Elite.


Há uma clara criminalização da pobreza. A caríssima campanha na tevê é simbólica. São crianças BRANCAS que estão comemorando a vida. Às negras resta-lhe a sorte de não serem baleadas nas portas de suas casas.

O maior fator que gera criminalidade é a concentração de renda. Como reflexo disso a falta de acesso à educação de qualidade – Ainda existem escolas que não iniciaram o ano letivo de 2012! –, cultura e moradia. Bom exemplo são as vítimas das cheias em 2010. O governo federal mandou os recursos para a reconstrução das casas há bastante tempo e o governo, comemora a entrega de casas no final desse ano. A zombaria com o povo alagoano é sem tamanho.

Alagoas é um estado surgido do latifúndio canavieiro. São os senhores de engenho que determinam a política e a economia na terra dos Caetés. Teotônio Vilela Filho representa a união do poder político ao econômico. Se já colocar um preposto na cadeira de governador é benéfico para a “doce” elite alagoana, ter um dos seus é algo que ainda não tem nome.

Como não tem nome a isenção fiscal – mais uma como se os usineiros já não tivessem o suficiente – cujo o Estado de Alagoas abriu mão de receber em torno de R$ 80 milhões.

Para passar a impressão de incansável na luta contra a violência, o tucanato investe em uma série de aparatos. Até uma “batcaverna” com telas mostrando imagens de câmeras espalhadas por várias regiões de Maceió foi montada. A Força Nacional instalou-se de vez no estado. O programa “Brasil mais seguro” despeja milhões de reais, mas nada disso faz efeito. O centro da causa da violência não é tocado: a concentração de riqueza.

Mesmo com as políticas de transferência de renda do governo federal, que injetam muito mais dinheiro na economia local como um todo, não conseguem reduzir a contento a disparidade entre os mais ricos e os mais pobres. Para além da questão financeira, diga-se de passagem. Se há uma ocupação de terra, em pouco tempo – horas às vezes – é emitida a reintegração de posse. Se uma capataz ou mesmo o dono de latifúndio mata um trabalhador sem terra, anos passam e o crime não é solucionado e os responsáveis julgados.

Se morre um branco em um bairro de classe média em pouco tempo os assassinos são detidos. Se houver repercussão na mídia, é capaz que antes do enterro da vítima o crime já esteja solucionado. Mas se morre, como acontece aos montes todos os dias, um trabalhador negro da periferia, vira estatística. Isso também com homossexuais e violência contra as mulheres.

As velas de Teotônio Vilela são para quem mesmo? O índice de mortes por cem mil habitantes em Alagoas passa dos 50. É o mesmo que uma guerra. Para quem e para quê são as velas de Teotônio? Na cara propaganda se afirma que é em celebração à vida, mas está mais para fazer orações pedindo para que o tucanato saia logo do governo de Alagoas. Se o poder no Estado ainda é dos senhores do açúcar, pelo menos o aparelho do poder executivo local precisa – urgentemente – mudar. E haja vela para chorar os mortos alagoanos.

3 comentários:

Flavia Melo disse...

Bravo, Cadu! As velas são pro nosso enterro! O que mais me entristece é essa análise da terra de coronéis que ainda somos e que não consigo sentir que estejamos saindo... Teo Vilela foi REELEITO e temo que o desgoverno psdbista continue reinando por nossa terra, mesmo após as próximas eleições, talvez numa carinha mais disposta e jovial, mas psdbista. O eleitor alagoano merecia um estudo antropológico/psiquiátrico...

Nagô Ketu disse...

Em Alagoas... a violência atinge em alta proporção jovens entre 18 e 29 anos, homem, e de pele parda/negra, em bairros da periferia. Enquanto isso o governo do Estado, divulga que a proporção de homicídios diminuiu. Eu sei que essa verdade é dolorosa, mas nós cidadãos temos o dever de não acreditar nessa Mentira Governamental. Estamos vivendo numa guerra civil velada.

Se você não conhece ninguém que morreu em Alagoas por conta da violência, você é um privilegiado, porém não deve se calar diante desse holocausto juvenil.

O perfil de quem morre vítima está traçado e sabemos que não choca a sociedade quando o Jovem que mora em periferia morre, porque este é tido enquanto criminoso, não enquanto vítima. Mas você já se perguntou e se fosse comigo? Ou com meu irmão, meu amigo? Meu vizinho?

Vamos Repensar a política de segurança pública. Será mesmo que a polícia consegue barrar essa violência que aniquila cada vez mais nossa juventude?
Aonde estão os INVESTIMENTOS em políticas sociais?

O que vamos fazer para barrar essa Barbárie?
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Macka disse...

O animal na contramão da história, Lula lideraou o maior programa de iluminação no NE como em Alagoas "estão à luz de velas?". A maior opositora dessa besta é a crente da blusa branca psolista né? Talvez venha daí tanta idiotice;