domingo, 27 de julho de 2025

Caiado, Ratinho, Tarcísio e a eterna submissão da elite à potência estrangeira

Ratinho Jr., Ronaldo Caiado e Tarcísio defendem submissão aos EUA (Imagem de IA)

Em evento recente, governadores da direita – quer dizer, da extrema-direita envergonhada –, criticaram a postura do presidente Lula diante do ataque de Donald Trump à soberania brasileira. Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio de Freitas defenderam que o chefe de Estado e chefe de governo do Brasil se curve à chantagem do laranjão do norte.

A defesa à submissão, travestida de “ações efetivas para resolver o problema”, ocorreu em 26 de julho, durante a Expert XP, um tipo de rentista fest, onde as figuras que lucraram com a miséria do povo – através da desindustrialização e de juros abusivos – se encontram para se vangloriar de sua riqueza e expertise em acumular dinheiro sem produzir um botão sequer.

Nos títulos dos veículos da mídia hegemônica, a ênfase de que os três fascistoides envergonhados foram aplaudidos após a ode ao viralatismo brasileiro. Nada mais natural, já que a classe dominante brasileira é antinacional e, portanto, seus vassalos também o são.

O que os três candidatos a sobressalente de Bolsonaro não falaram, nem ao menos os mediadores do rentista fest, foi que o Estado brasileiro busca negociar com os Estados Unidos desde o anúncio de tarifa em 10%, ainda em abril, mas a Casa Branca não tem respondido às tratativas brasileiras.

O que os três patetas de calças arriada – e tantos outros por aí – querem? Que Lula vá à Casa Branca e seja humilhado por Trump? Todo mundo sabe que Lula não aceitaria a humilhação pública e reagiria na hora. Daí, construiriam a narrativa de que Lula não tem resistência emocional.

O golpe tá aí, cai quem quer.

Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio de Freitas são parte do problema que gerou os ataques de Trump à soberania brasileira, uma vez que sempre fizeram parte desse neonazifascimo abrasileirado do século 21 que começou a pôr a cara nas ruas ainda em 2013, subiu ao pico da montanha em 2018 e tensiona a população brasileira desde então.

Tarcísio, de tão ignóbil, chegou a festejas as novas tarifas de 50% a produtos brasileiros com videozinho nas redes sociais colocando o boné de Trump. Se fosse postagem em plataformas 18+, poderia ser um vídeo dele lambendo as “tangerinas” de Donald Trump.

O governo Lula jamais se negou a negociar as tarifas com os Estados Unidos, mas não admite pôr na mesa a soberania do Brasil, ainda mais porque a economia brasileira não é refém das relações comerciais com os Estados Unidos.

Ah, tem um aspecto que é sempre fundamental frisar: as tarifas em si não são um ataque à soberania brasileira. Qualquer país pode impor ou retirar tarifas quando bem entender. O ataque de Trump à soberania brasileira vem das condicionantes oficiais do tal tarifaço: que o Poder Judiciário brasileiro pare o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, e que Lula faça isso.

Além de intromissão em assuntos internos, o laranjão do norte que Lula agindo como um ditador.

Isso não vai ocorrer e Jair Bolsonaro será julgado, condenado e preso, assim como seus comparsas.

Mas voltando aos três aspirantes a “neoJair”, eles reacenam ao rentismo para reafirmarem que se um deles disputar a Presidência da República em 2026, podem ficar tranquilos porque são de confiança. As falas também se direcionam aos setores mais atingidos pelo tarifaço, cujos empresários, como todo capitalista brasileiro, tem o horizonte curto, limitado, ao “dia de amanhã”, quase literalmente.

O Brasil não vê nessas discussões, os setores atingidos pelo tarifaço falarem em investir mais no mercado interno, por exemplo, pois isso significaria, entre outras coisas, bons salários aos trabalhadores. Mas há também o fator cultural: a classe dominante brasileira jamais se livrou dos valores da escravidão. Jamais. Por isso, sempre há chilique quando se fala em aumento salarial. E é justamente por sermos visto como indignos, tal qual os escravizados eram alguns séculos atrás, é que nós, os trabalhadores, não somos público consumidor deles.

Sempre quando vemos uma embalagem com a expressão “tipo exportação” nela, saibamos que ali tem o melhor produto daquele fabricante. O que fica para nós é o resto. Para a classe dominante, o povo brasileiro não é digno de consumir seus melhores produtos. É ódio de classe na veia.

Fiz essa pequena volta para ilustrar/explicar um dos elos de nossa sociedade que no enfraquece em momentos como este e o por quê de Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio de Freitas falarem as tais bobagens na Expert XP: porque tem eco, aceitação, naturalização. A subserviência à potência estrangeira da vez é da natureza da classe dominante brasileira.

Se nossa classe dominante fosse minimamente patriota, primeiro que não teríamos parlamentares eleitos defendendo os ataques à soberania brasileira, e não haveria quem se sinta confortável com as calças arriadas diante dos Estados Unidos.

No fim das contas, é disso que se trata. Trump não é eterno e o Brasil não é uma republiqueta. Essa é a equação. Negociar, sim. Baixar a cabeça para um velho com rompante ditatorial, jamais.

Os Estados Unidos são o terceiro parceiro comercial do Brasil, cujo peso nas exportações representou ao final de 2014, cerca de 11%. À frente estão China, com 33,4% e União Europeia, com 17,79%. Em termos de PIB, as exportações aos Estados Unidos representam cerca de 1,5%.


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Ou seja, apesar do tranco, o Brasil tem plenas condições de viver sem os Estados Unidos, ainda mais diante da excelente relação com outros países. Só a Organização Mundial do Comércio (OMC), 40 nações aliaram-se ao Brasil e teve até gente levantando a hipótese de expulsar os Estados Unidos do grupo.

Outro fator que, mesmo tacitamente, desmonta a ode à submissão de Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio de Freitas é que Trump sempre recua. Sempre, sem exceção. Inclusive isso é algo admitido por ele. Em livro, ele ressaltou sua tática de blefar, espernear, abrias as penas do rabo de pavão para pôr medo e depois negociar em melhores condições.

OK, mas ele fará isso com o Brasil?

Tudo indica que sim. Vejamos.

Os produtos brasileiros mais atingidos pelo tarifaço de Trump impactam o dia a dia do estadunidense médio: suco de laranja, café e carne que, no caso, é que ele fazem hambúrguer. Quem pagará a conta serão eles com o aumento de 50% nos preços.

Segundo, a reação interna ao ataque ao Brasil é enorme, de veículos de imprensa a influenceres daquele país, as pancadas em Trump por isso não param. Inclusive, ressaltando que ele abriu mão de 300 milhões de estadunidenses “por um brasileiro corrupto que tentou dar golpe de Estado”.

Terceiro, sua popularidade está em baixa e em 2026 serão realizadas as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos com Trump correndo o sério risco de perder a maioria na Câmara dos Deputados e no Senado. Pragmaticamente, ele terá que escolher se quer seguir tarifando o Brasil sob o argumento do caso Bolsonaro ou vencer a eleição.

Quarto, esse movimento nos joga ainda mais para a relação com o BRICS, em especial a China e, eleitoralmente falando, fortalece a esquerda e o campo democrático no Brasil. Quanto mais Trump se mete aqui – de novo, eleitoralmente falando – melhor para nós.

Esses são algumas das razões por que as falas de Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Tarcísio de Freitas não passam de um monte de besteira antinacional, bem ao gosto da classe dominante brasileira.

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