domingo, 3 de agosto de 2025

Sobre a relação PT/MDB em Alagoas


Não é de hoje que a relação política entre o PT e o MDB em Alagoas gera controvérsias, dentro e fora do Partido dos Trabalhadores. A partir de fora, naturalizou-se a máxima de que o PT alagoano é um “puxadinho” do MDB local, comandando pelo senador Renan Calheiros, o que acabou contaminando também a percepção interna entre parcela de filiados ao PT, à qual defende rompimento total com os emedebistas. Mas nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Evidente que há muito tempo o PT tem, em meu ponto de vista, errado nessa relação. Não por estar majoritariamente coligado ao MDB nas disputas eleitorais locais, mas por não ter usado esse tempo – ao menos desde 2003, quando aderiu à base de Lula em seu primeiro governo, após ter votado em José Serra no pleito de 2002 – para crescer politicamente em Alagoas, não somente em espaços institucionais, mas também em influência política junto aos alagoanos.

O PT – assim como toda a esquerda alagoana – tem pecado no trabalho de formação, consolidação e fortalecimento de lideranças. Por isso, os quadros são sempre os mesmos e nos mesmos tamanhos de sempre, relegando à militância somente o papel de claque em manifestações de rua e plenárias partidárias.

Um parêntese: isso não é “privilégio” do PT, mas um partido como o PT, com o discurso que tem, teria que ser diferente.

Na outra ponta, o MDB já vem há muito tempo aumentando, consolidando e fortalecendo sua influência política em Alagoas, sempre sob o comando dos Calheiros. Mas se olharmos atentamente às lideranças emedebistas, veremos uma série de lideranças eleitoralmente viáveis, com influência política regional ou em segmentos, espalhadas por Alagoas.

Essa construção rendeu ao MDB – não sem contradições internas – a hegemonia política no estado, tendo 66 dos 102 prefeitos alagoanos na sigla, 14 dos 27 deputados estaduais, dois dos nove deputados federais, dois dos três senadores e um ministro.

Como o PT em Alagoas, um partido nacional de fato, vai romper de uma vez, e de hoje para amanhã, com um aliado nacional tão forte localmente? Isso seria suicídio político, uma ida mais funda à inanição política, resultando no resquício de influência política real que o partido ainda tem em Alagoas. Contudo, isso não significa não reconhecer, entender e atuar sobre as contradições existentes com o MDB. Até por que, sem isso, diante das condições objetivas da política alagoana, é adesismo e adesismo não constrói, engessa.

Outro parêntese: dos grandes partidos, só o PT é nacional de fato. Ser um partido nacional não é ter diretórios em todos os estados, mas, sim, ter uma tática de ação unificada em todo o país que, neste momento é a reeleição de Lula em 2026. O resto tem de servir a esse propósito, goste-se disso ou não.

Por mais duro que possa parecer, por mais que incomode aos petistas esse tipo de afirmação, é a mais pura verdade. Dourar a pílula não resolve o problema.

O PT precisa aprender a usar a relação com o MDB para se fortalecer enquanto partido político para ter força sem “ajuda” de ninguém como um partido eleitoral. E isso para por fazer as frentes de atuação, institucional e social, voltarem a enxergar o mesmo horizonte, combinando tática e estratégia, no sentido leninista dos termos.

Bradar que o PT tem porque tem que lançar candidato a governador, prefeito porque tem, porque é o partido do Lula, porque tem a melhor militância… Em resumo, por causa do broche na camiseta, é a mais pura falta de compreensão da política, um romantismo rasteiro, baseado somente em vontade pessoal.

Acertando os eixos, e com o mínimo de unidade tácita e estratégica interna, daqui alguns anos o PT terá influência suficiente para interferir, de fato, na política em Alagoas. Antes disso, não.

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