sábado, 26 de maio de 2012

A atualidade de Perseu Abramo


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Em recente leitura para realização de trabalho para a faculdade de jornalismo que estou cursando, do livro “Padrões de manipulação da grande imprensa” de autoria do sociólogo e jornalista Perseu Abramo, sobre as formas e os porquês da manipulação da informação por parte da grande imprensa brasileira, escrito em 1988, descobri que seus escritos são de uma atualidade sem precedentes.

O comportamento partidário da grande imprensa para atender seus interesses políticos, seus “truques’ para ludibriar a sociedade e o comportamento das classes dominadas diante dela (grande imprensa) parecem que foram escritas ontem.

A característica desta obra mostra como a ciência é atemporal e como a grande imprensa brasileira é ardilosa na busca de seus objetivos de conquista e manutenção do poder.

Na edição também conta com um artigo do jornalista Aloysio Biondi sobre como a grande imprensa ajudou o governo FHC a superar crises e manipulando a opinião pública na avaliação de sua passagem frente à Presidência da República. Para quem estiver interessado em comprá-lo, clique aqui

Abramo não só afirma que a grande imprensa tornou-se um partido político como também elenca as características similares entre os tipos de organização (empresa x partido). Abaixo as características que mais me chamaram a atenção elencadas por ele em seu ensaio.


“7. Os partidos são um ponto de referência para segmentos sociais, têm seus simpatizantes e seu eleitorado. Os órgãos de comunicação também são um ponto de referência para milhares ou milhões de leitores/espectadores, têm seus simpatizantes e seguidores, o seu leitorado”; “9. Os partidos procuram conduzir partes da sociedade ou o conjunto da sociedade para alvos institucionais, para a conservação de algumas instituições e para a transformação de outras; têm enfim um projeto histórico relacionado com o poder. Os órgãos de comunicação também procuram conduzir a sociedade, em parte ou no todo, na direção da conservação ou da mudança das instituições sociais; têm, portanto, um projeto histórico relacionado com o poder.” e “10. Os partidos têm representatividade, em maior ou menor grau, na medida em que exprimem interesses e valores de segmentos sociais; por isso destacam, entre seus membros, os que disputam e exercem mandatos de representação, legislativa ou executiva. Os órgãos de comunicação agem como se também recebessem mandatos de representação popular, e alguns se proclamam explicitamente como detentores de mandatos. Oscilam entre se auto-suporem demiurgos da vontade divina ou mandatários do povo, e confundem o consumo dos seus produtos ou índice de tiragem ou audiência com o voto popular depositado em urna”páginas 45 e 46 da 2ª reimpressão.

Nada mais atual!

Como nada mais atual também a reação daqueles que se indignam com o nocivo comportamento da grande imprensa brasileira.

A passagem que mais me chamou a atenção foi: “Num primeiro plano, as classes politicamente dominadas tenderão, cada vez mais, a desmistificar o jornalismo e a imprensa. Não mais terão motivos para acreditar ou confiar na imprensa e seguir suas orientações... No segundo plano, as classes dominadas tenderão a passar a um nível superior de defesa e contra-ataque em relação à imprensa. Passarão a tratar os órgãos como eles se apresentam e se comportam, isto é, como entes político-partidários, e não como instituições de informação e conhecimento, acima do bem e do mal, acima da luta de classes e distantes da disputas do poder.”pág. 49

O que vemos hoje é a grande imprensa se comportando como um partido de oposição aos governos de Lula e Dilma. Oposição aos movimentos sociais, oposição a qualquer passo quê se dê para ampliação da democracia no Brasil, entre os quais a regulamentação dos meios de comunicação. Não foi à toa que a grande imprensa brasileira apoiou o golpe militar de 64.

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A grande imprensa não cita nem de longe o envolvimento da revista Veja, um de seus pares, com o bicheiro Carlos Cachoeira e faz de tudo para que nenhum membro da revista deponha na CPMI que investiga as relações do bicheiro.

A grande imprensa todos os dias passa ao povo brasileiro o retrato de um país que não existe. Se na ditadura, e até aos governos de FHC, a imagem passada era de um jardim de flores, de 2003 pra cá é de circo dos horrores.

Mas, felizmente, as pessoas cada vez menos (longe do que deveria) estão se emancipando da influência da grande imprensa. Não é à toa que a audiência da “poderosa” caiu significativamente. Boa parte deste fenômeno se deve ao surgimento da internet e das redes sociais. É cada vez maior o número de pessoas com acesso à net.

Sobre a economia quando não dá pra esconder o bom momento em que vive o país, soltam a mesma ladainha de que a onda foi gerada por FHC.

Chamam toda a população brasileira de palhaços!

A mudança de postura do Estado em relação à economia no governo Lula é gritante. Antes, no período FHC, tínhamos um Estado observador da economia e a partir de Lula um Estado indutor da economia. Aquém do que deveria ou poderia, pois FHC destruiu o Estado nacional com suas privatizações à preço de banana e sem que nenhuma nota de rodapé sobre o maior roubo da História do país fosse divulgada.


Nem mesmo com o lançamento, em 2010, do livro “A Privataria Tucana” do jornalista Amaury Júnior. Este repleto de documentos contando como o Serra, a Abril, a Globo, a Folha, o Estadão e o Reynaldo Azevedo ganharam dinheiro com as privatizações.

Abramo está mais atual do que nunca. Se quando vivo a imprensa era o principal partido da situação e sob esta condição foi que ele escreveu seu ensaio, hoje ela (imprensa) é o maior (e único em atividade) partido de oposição.

Lembrando que parte da esquerda não é poder no Brasil. Parte da esquerda dirige o aparato de Estado no Brasil numa composição de governo de coalizão.

Poder é outra coisa. É ilusão achar que o PT é poder no Brasil. O poder no Brasil pertence aos donos do capital, à Igreja católica (e às outras em geral), aos bancos e às grandes corporações. A grande imprensa é o seu partido político, seu instrumento de luta ideológica que mantém parte do povo adormecido. Do mesmo jeitinho que acontece no filme Matrix (quem nunca assistiu, recomendo).

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Cadu!
Excelente comentário. O Brasil precisa muito, proncipalmente neste momento, de pessoas como você.
Um abraço,
Cirley.

Shirley disse...

Parabéns Cadu!
Excelente texto.

Abraços.