segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Folha tira números sobre base de contexto para impor sua torcida por traição

Folha mistura vontade a números sobre base de Lula na Câmara (Fotos: Reprodução)

A Folha de S.Paulo publicou nesta segunda-feira, 13 de fevereiro, um levantamento sobre as votações de parlamentares dos partidos da base de apoio de Lula (PT) no atual governo, em comparativo com os outros governos encabeçados por petistas, na Câmara dos Deputados. Até aí, nada demais. O problema é tirar os dados de seu contexto para pôr uma lente de aumento sobre a “fragilidade” da base governista no Congresso Nacional.

Vejamos o caso do PSD, destacado pela reportagem.


“Os parlamentares do PSD até acompanharam o PT nas primeiras votações após sua criação, em 2011, mas logo adotaram distanciamento crescente em relação aos petistas”, ressalta a Folha de S.Paulo após pontuar que a legenda de Gilberto Kassab não apoiou Lula na campanha eleitoral de 2022.

A legenda, aliás, liberou seus membros a apoiar quem desejassem.

O que a reportagem não cita é que o PSD foi criado para ocupar o lugar do MDB na política brasileira, de compor com qualquer que seja o governo da vez, independente do verniz ideológico. Assim sendo, se o tal governo da vez está enfraquecido, a base vai “saindo de fininho” para o próximo “rei”. 

O distanciamento crescente se deu por conta da disputa por espaço com o MDB, partido do então vice-presidente Michel Temer. Ainda estamos em 2011. E cabe ressaltar que o PSDB recebeu “apoio” para sua criação do governo Dilma. Logo, já temos uma rusga aí.

Desde 2013, com as “patacoadas de junho”, todos os governantes do país passaram a ter quedas vertiginosas de popularidade, com destaque para a presidenta Dilma, que foi reeleita em 2014 por margem muito pequena de votos, além de uma relação com o Congresso Nacional, no mínimo, complicada.

Portanto, o distanciamento do PSD da base governista de então foi algo natural, seja por qualquer dos dois motivos citados acima: o não engajamento esperado pelo Planalto para tomar o lugar do MDB na política nacional; e o início dos fatos que resultaram no golpe de 2016.

Em outro trecho da reportagem, a Folha de S. Paulo pontua que “o padrão de oposição ao PT, especialmente a partir do governo Dilma Rousseff,  (2011-2016), também aparece no histórico de outras siglas da base formal de Lula, como MDB, Avante, Solidariedade e Pros”.

No caso do MDB, além da rusga por conta da criação do PSD e da, já citada, queda de popularidade de Dilma, a legenda passou a vislumbrar ocupar a Presidência da República. Quando a coisa degringolou de vez, praticamente todas as legendas aderiram ao golpe, mesmo que em muitas delas não todos os parlamentares.

O mesmo vale para Avante, então PTdoB; Solidariedade, criado em 2012 por Paulinho da Força; e Pros, fundado em 2010.

Há outras nuances aí, especialmente, no caso do Solidariedade. A legenda é ligada à Força Sindical, que rivaliza espaço no movimento sindical com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT.

Além disso, a reportagem da Folha de S.Paulo não cita o fato de que em todos os governos de Lula e Dilma, a base de apoio congressual sempre foi heterogênea. Daí, não haver votações blocadas, com 100% dos parlamentares, sempre foi algo corriqueiro. E agora, não deve ser diferente. Faz parte.

O tom do texto deixa o leitor mais desatento com ansiedade por traições que devem chegar em breve, mas que nada, objetivamente falando, aponta para isso nesse mês e meio de governo Lula 3.

Tivesse a reportagem da Folha somente os dados das votações seria mais interessante e honesta intelectualmente. Mas o veículo dos Frias sempre gostou de pôr aquela “pitada” de torcida em suas análises e tornar opinião em fato. Temos aí mais um bom exemplo.

Em política, tudo pode acontecer. Inclusive, nada. Logo, é preciso avaliar o comportamento dos parlamentares a cada votação de propostas saídas do Planalto e somente após algum acúmulo de votações é que poderemos ter um panorama mais fiel a como o Congresso Nacional se portará diante do governo Lula 3.

Fora disso é só torcida, seja contra ou favor. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Posturas como essa, da FSP, inviabilizaram a continuidade da assinatura do jornal. Por insatisfação.

Cadu Amaral disse...

Pois é