segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

A conta rachada por cinco do crime contra os Yanomami

Crianças Yanomami desnutridas (Foto: Instagram @urihiyanomami)


O Brasil e o mundo ficaram chocados com a situação dos Yanomami, em Roraima. Adultos e crianças somente em pele e osso. O descaso e o estímulo à prática de crimes em seu território resultaram na chocante situação de crise humanitária que já vitimou 570 crianças Yanomami.

Pelo menos – pelo menos! - cinco pessoas têm parte nessa conta.


1 – Jair Bolsonaro, que atuou incansavelmente para o “liberou geral” de garimpeiros na região quando era presidente da República, aumentando, exponencialmente, a contaminação de rios por mercúrio. Segundo laudo da Polícia Federal sobre contaminação dos rios na Terra Indígena Yanomami, divulgado em junho de 2022, quatro rios da região estavam com contaminação por mercúrio 8600% superior ao estipulado como máximo para águas de consumo humano.

Além disso, o então candidato – e pré-candidato –, o então deputado cansou de atacar a população indígena e prometer não dar “mais nenhum centímetro” de demarcação de terras. Ainda quando nem sonhava em ser candidato a presidente da República, em 1992, o então deputado Jair Bolsonaro apresentou projeto de lei para revogar portaria que dava posse permanente aos Yanomami de suas terras (CLIQUE AQUI).

2 – Hamilton Mourão, que coordenou o Conselho Nacional da Amazônia Legal, cuja uma das atribuições era atuar contra o desmatamento. Mas para fazer isso, ele teria de ir contra as diretivas de seu governo, que liberou geral o garimpo e o desmatamento.

3 – Eduardo Pazzuello, que à frente do Ministério da Saúde, enviou mais de 100 mil unidades de cloroquina ao Distrito sanitário especial indígena (DSEI) dos Yanomami e Leste de Roraima. Os dados são do Localiza SUS. Se somar todas as populações indígenas, Eduardo Pazuello enviou cerca de 250 mil comprimidos do “kit covid”.

Mais prova de negligência com a saúde dos Yanonami que isso não há.

Os três acima são militares do Exército.

4 – Damares Alves, que em agosto de 2020 pediu ao então presidente Jair Bolsonaro que vetasse uma lei que obrigada União, estados e municípios a fornecerem água potável; materiais de limpeza, higiene e desinfecção; leitos de UTI; ventiladores pulmonares; e materiais informativos sobre a covid-19. 

Já em 2022, Damares Alves desdenhou do caso da criança Yanomami, de 12 anos de idade, estuprada por garimpeiros na região do Waikás, em Roraima. “Lamento, acontece todo dia”. Disse ela ao UOL. 

5 – Sergio Moro, que em 2019 ainda era ministro da Justiça de Bolsonaro e demitiu o indigenista Bruno Pereira do cargo de coordenador-geral de Indígenas Isolados da Fundação Nacional do Índio (Funai) em outubro de 2019. 

Bruno Pereira foi exonerado imediatamente após comandar ações de combate ao garimpo ilegal em terras Yanomami. Três anos depois, em 2022, ele foi assassinado no Vale do Javari. 

Sergio Moro foi um dos defensores da decisão de Jair Bolsonaro de levar a Funai para o guarda-chuva do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado por Damares Alves. “Acho uma decisão correta”, defendeu em abril de 2019. Damares seguiu a mesma toada: “Funai tem de ficar com ‘mamãe Damares”.

Garimpeiros tiveram o total aval do governo militar de Bolsonaro nos últimos quatro anos para fazer o que bem entendessem na região amazônica. Não à toa que a bomba colocada num caminhão-tanque nas proximidades do Aeroporto de Brasília na véspera de Natal é do mesmo tipo usado em garimpos.

DIFERENÇA

No dia 21 de janeiro, o presidente Lula (PT) decreto situação de emergência na região Yanomami, após visitar o local com um grupo de ministros. Em completa diferença em relação ao período anterior, o Governo Federal já começou, através da Força Aérea Brasileira (FAB) a levar alimentos aos indígenas; já mobilizou a estrutura do Ministério da Saúde para o atendimento médico e iniciou recrutamento de voluntários.

Cestas básicas chegam em terras Yanomami em Roraima (Foto: Ministério da Saúde)

Além disso, o Ministério da Justiça já determinou à Polícia Federal que inicie inquérito para apurar as responsabilidades do genocídio Yanomami.

Os nomes que citei, se não forem comprovadas as responsabilidades penais sobre a tragédia em Roraima, têm, em absoluto, responsabilidade política e essa conta tem de ser rachada entre eles. Que o Brasil não se esqueça disso jamais!

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